Em 1968, duas greves de metalúrgicos puseram pela primeira vez em xeque a mordaça imposta pela ditadura militar. Mesmo reprimidas, as greves de Contagem e Osasco foram um marco na história do movimento operário brasileiro, ao introduzir um modelo de organização dos sindicatos pela base e defender a autonomia sindical frente ao Estado. A decretação do AI-5 provocou um longo intervalo de submissão dos sindicatos, mas não apagou suas lições; dez anos depois, elas foram a base da oposição sindical que emergiu em todo o país.
Categoria: Cemap
O acervo do Cemap e as lutas populares
Tornarem-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva
(Jacques Le Goff, História e Memória)
Todo mundo já ouviu falar de amnésia, aquele distúrbio que envolve a perda parcial e total da memória. E perder a memória é uma possibilidade terrível, considerando que a nossa personalidade é fundada em nossas lembranças, naquilo que nos ocorreu da primeira infância até hoje. Ou, como diz a linguagem popular, “desde que me conheço por gente”. Perder a memória é quase sinônimo de perder a identidade; de não ser mais sujeito, e sim objeto.
Se essa possibilidade já é assustadora para um indivíduo, imagine-se para um país, um povo, uma sociedade.
O Centro de Documentação e Memória (Cedem) da Unesp lançou a segunda edição de seu Guia do Acervo, que incorpora fundos e coleções recebidos depois de 2008, quando foi publicada a primeira edição. O Guia é uma publicação de referência para os pesquisadores interessados em conhecer e utilizar o material do centro.
Com 166 páginas, ele traz informações sobre os documentos do Projeto Memória da Universidade, constituído para preservar a história da Unesp, e sobre o material proveniente de movimentos sociais e da esquerda nacional e internacional que integram o acervo, entre eles o Cemap. A publicação pode ser baixada em formato PDF no site do Cedem, ou clicando aqui.
As lutas de um dos fundadores da Frente Única Antifascista, que em 1934 dissolveu uma grande manifestação integralista na praça da Sé
José Arbex Jr.*
1934, 7 de outubro. A insuportável tensão na praça transparecia cristalina na ansiedade das milhares de pessoas ali concentradas. Todos sabiam que aquele domingo paradoxalmente acolhedor presenciaria uma tragédia, antes mesmo do ameno sol da tarde desaparecer no horizonte. Os minutos passavam muito lentos naquela praça.
Um jovem trabalhador de feições enérgicas destacou-se da multidão e iniciou um discurso. Num tom grave, apontou uma outra concentração, situada dezenas de metros adiante e afirmou: “Companheiras, companheiros trabalhadores, camaradas! Estamos aqui para impedir que eles tomem esta praça. Porque se hoje os fascistas tomarem esta praça, amanhã tomarão o Estado…”
Foi então que a fuzilaria começou. Os integralistas, que compunham o grupo mais adiante, começaram a atirar sobre a concentração democrática e antifascista. Pessoas tombaram mortas ou feridas. Houve correria, gritos e sangue por todo o lado. A tragédia havia começado.