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Comuna ou Napoleão?

As comemorações históricas e a autorreflexão da historiografia francesa

Danilo Chaves Nakamura

No último dia 18 de março foram celebrados os 150 anos da Comuna de Paris. Uma comemoração mais ou menos óbvia para os militantes e simpatizantes dos partidos e movimentos sociais de esquerda. Um momento oportuno também para a realização de seminários universitários e para o lançamento de novas publicações sobre a primeira experiência histórica de um autogoverno da classe trabalhadora.

Anne Hidalgo, prefeita de Paris e filiada ao Partido Socialista, não deixou de participar de uma comemoração – com público restrito devido à pandemia do novo coronavírus – na Praça Louise-Michel. Imagens impressas de importantes personagens da história (Louise Michel, Jules Vallès ou Arthur Rimbaud) preencheram a paisagem do local da celebração e músicas como Le Temps des cerises animaram o evento.

Unesp lança livros gratuitos

A Unesp e sua Editora lançaram esta semana 14 novos livros em formato digital nas áreas de Ciências Humanas, Ciências Sociais e Aplicadas e Linguística, Letras e Artes. As obras são editadas pelo selo Cultura Acadêmica, da Editora Unesp, e podem ser baixadas gratuitamente no site da coleção.

Os dias que vêm


Emmanuel Nakamura

“Na França, toda classe popular é idealista política e se sente em primeiro lugar não como classe particular, mas sim como representante das carências sociais em geral. Portanto, o papel emancipador passa, de acordo com uma série, em movimento dramático, pelas distintas classes do povo francês até atingir, finalmente, a classe que já não realiza a liberdade social sob a pressuposição de certas condições que se situam fora do homem e que, não obstante, são condições criadas pela sociedade humana, mas que antes organiza todas as condições da existência humana sob a pressuposição da liberdade social.”1MARX, K. Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie. Einleitung. In: Karl Marx: Werke, Artikel, Entwürfe März 1843 bis 1844. MEGA I/2. Berlim: Dietz Verlag, 1982, p. 170-183, p. 181.

Essa ideia marxiana da liberdade social pressupõe todo o desenvolvimento do idealismo alemão sintetizado na filosofia hegeliana. Ela é, por isso, sim uma ideia, e só pode ser entendida como um desdobramento da ideia hegeliana da liberdade. Por isso também, ela pressupõe um longo desenvolvimento histórico que tem seus ápices na Reforma Protestante e na Revolução Francesa. Ao afirmar que Deus mora em nossos corações, a Reforma trouxe ao mundo o princípio da liberdade particular subjetiva: apenas a nossa fé nos liga ao Espírito Absoluto. Com o protestantismo, a separação entre as autoridades divina e estatal passa a ser um pensamento existente dentro da própria religião cristã. O princípio da liberdade protestante significa que todas as esferas da nossa vida precisam ser legitimadas pelo que nós achamos como justo. Já a Revolução Francesa foi uma tentativa de realizar a ideia filosófica da liberdade de Rousseau. Uma ideia filosófica, diante do mundo, é uma ideia abstrata, e sua realização significa negar toda a realidade do mundo existente. Ao negar o mundo antigo, a Revolução Francesa abriu caminho para que a sociedade civil burguesa se desenvolvesse livremente, sem as amarras do regime feudal, e para que as Constituições dos Estados modernos pudessem ser elaboradas a partir do princípio da liberdade subjetiva moderna.

Por um verdadeiro estado de emergência

O coletivo Interludium, reflexões anticapitalistas tem o prazer de divulgar neste site as cinco aulas do minicurso sobre o pensamento do filósofo alemão Walter Benjamin, organizado pelo grupo Desvios entre abril e maio de 2010. O curso “Por um verdadeiro estado de emergência” contou com especialistas e professores que estudam e simpatizam com pensamento de Benjamin, como Isabel Loureiro, Gilberto Bercovici, Caestarlos E. J. Machado, Jeanne Marie Gagnebin, Maurício Cardoso, José Sergio Fonseca, Jorge Grespan e Paulo E. Arantes, e teve um imenso público.

Apontamentos sobre o lugar da história em ‘O Capital’ de Marx

§ 1 – Minha comunicação tem como objetivo apontar para o lugar da história no Livro I d’O Capital. Seguindo Ingo Elbe, em Marx im Westen: die neue Marx-Lektüre in der Bundesrepublik seit 1965 (2008), tentarei contextualizar as quatro maneiras em que a história é considerada, a saber: a) o duplo modo em que a história é considerada dentro do modo de apresentação lógico-sistemática: 1) o conteúdo especificamente histórico das categorias; 2) as condições estruturais da dinâmica histórica que se desdobram dentro da formação capitalista, mas cujos resultados não são dedutíveis; b) o duplo modo como a história é considerada como limitação da forma de análise lógico-sistemática: 3) a contingência histórica de um acontecimento singular que não provém necessariamente das estruturas fundamentais do sistema; e 4) o devir histórico externo ao sistema, mas incorporado ao conceito de capital como a pressuposição para a autorreprodução do sistema. Minha hipótese é que essa contextualização me permitirá apontar para a tentativa marxiana de demonstrar o sistema capitalista como um sistema finito e para a dimensão do político implícita nessa tentativa.

O pensamento crítico na América Latina relacionado às lutas de libertação nacional

O presente artigo busca resgatar o conteúdo anticapitalista do pensamento crítico marxista na América Latina criado historicamente a partir dos processos de luta e resistência da classe trabalhadora no continente a partir do entendimento de que o desenvolvimento das contradições que movem o processo histórico da América Latina se deu de maneira diferente do processo histórico do continente europeu. O desenvolvimento das contradições na América coloca para o pensamento crítico próprio do continente o tema da libertação nacional, fundamental para a maior parte dos povos, que não era uma proposição original de Marx.

O make up do trabalho

Esta dissertação analisa o trabalho das revendedoras de cosméticos de uma empresa brasileira, e discute a ausência de formas-trabalho dessa ocupação. A Natura é uma das mais reconhecidas e bem-sucedidas empresas brasileiras de cosméticos e produtos de higiene pessoal. A marca tem uma notável visibilidade social; já o mesmo não acontece com as mulheres que realizam no Brasil a distribuição dos produtos em sua totalidade. Denominadas “consultoras”, as vendedoras (a grande maioria é feminina) desempenham uma atividade que para elas se realiza desprovida de regulações públicas e, mais do que isso, que pode nem mesmo ter a forma-trabalho reconhecida.