Lucio Barcelos*
Eu, honestamente, não consigo entender como as entidades médicas (conselhos, sindicatos, centros de estudo e pesquisa, etc) conseguem reduzir o debate sobre o sistema de saúde brasileiro a uma mera e ridícula questão corporativa de mais ou menos médicos brasileiros e/ou estrangeiros (cubanos, marcianos, portugueses, espanhóis, ou o que seja).
A discussão é completamente outra.
O que nós temos que debater, e as entidades médicas, salvo raras exceções, não o fazem, é o seguinte: o sistema público de saúde – proposto na Constituição Federal, art. 196 a 200, está praticamente destruído. E, nos últimos dois ou três anos, houve uma intensificação no processo de desconstrução e privatização desse sistema. O público, hoje, está terceirizado, de uma forma mercantilizada, via organizações sociais, organizações sociais de interesse público (oscips), fundações privadas, etc, etc, etc. O sistema privado, mercantil, de saúde, desde sempre preponderou na área da saúde, onde o que importa é a realização de lucros e não o bem-estar dos cidadãos. Se, eventualmente, as coisas andarem no mesmo sentido, bom para o paciente. Se não correrem, azar do cidadão que necessita de atendimento de saúde. O privado, e é assim em todas as demais áreas, existe para explorar o trabalho dos seus trabalhadores e, a partir dessa premissa, realizar seus lucros. O resto é secundário.