Lúcia Pinheiro*
A “Cracolândia” fica na região central da maior e mais importante capital do país. Ali, uma população flutuante de cerca de 2.000 pessoas adota diversas estratégias para manter seu vício (consumo de crack) e as mínimas condições de sobrevivência.1“Cracolândia” é uma palavra que utilizei sempre entre aspas porque se trata de denominação atribuída pelo “Projeto de Revitalização do Centro”, composto de banqueiros, empresários, comerciantes e empreiteiras, com o claro objetivo de valorizar seus imóveis e incrementar seus negócios.
A escolha do local tem várias explicações: 1) naquelas imediações funcionava, dos anos 1960 aos 1980, a antiga rodoviária, onde desembarcavam pessoas vindas de todas as regiões do país; nas proximidades de rodoviárias sempre existe uma oferta maior de drogas; 2) uma grande rede de transporte público liga a área a todas as regiões da cidade; 3) como importante polo econômico/financeiro e comercial, atrai todos os dias uma infinidade de pessoas em vários horários; 4) há uma enorme infraestrutura de serviços na região, que inclui praças, igrejas e templos de várias religiões; postos de saúde, hotéis, albergues e abrigos; hospitais públicos, ONGs, inúmeras instituições e entidades benemerentes (fundamentais para manter vivo um bom número de usuários do crack).