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Por um verdadeiro estado de emergência

O coletivo Interludium, reflexões anticapitalistas tem o prazer de divulgar neste site as cinco aulas do minicurso sobre o pensamento do filósofo alemão Walter Benjamin, organizado pelo grupo Desvios entre abril e maio de 2010. O curso “Por um verdadeiro estado de emergência” contou com especialistas e professores que estudam e simpatizam com pensamento de Benjamin, como Isabel Loureiro, Gilberto Bercovici, Caestarlos E. J. Machado, Jeanne Marie Gagnebin, Maurício Cardoso, José Sergio Fonseca, Jorge Grespan e Paulo E. Arantes, e teve um imenso público.

Colocando um pouco de luz à chamada ‘Cracolândia’ e as pessoas que lá ‘(sobre)vivem’

A “Cracolândia” fica na região central da maior e mais importante capital do país. Ali, uma população flutuante de cerca de 2.000 pessoas adota diversas estratégias para manter seu vício (consumo de crack) e as mínimas condições de sobrevivência.1“Cracolândia” é uma palavra que utilizei sempre entre aspas porque se trata de denominação atribuída pelo “Projeto de Revitalização do Centro”, composto de banqueiros, empresários, comerciantes e empreiteiras, com o claro objetivo de valorizar seus imóveis e incrementar seus negócios.

A escolha do local tem várias explicações: 1) naquelas imediações funcionava, dos anos 1960 aos 1980, a antiga rodoviária, onde desembarcavam pessoas vindas de todas as regiões do país; nas proximidades de rodoviárias sempre existe uma oferta maior de drogas; 2) uma grande rede de transporte público liga a área a todas as regiões da cidade; 3) como importante polo econômico/financeiro e comercial, atrai todos os dias uma infinidade de pessoas em vários horários; 4) há uma enorme infraestrutura de serviços na região, que inclui praças, igrejas e templos de várias religiões; postos de saúde, hotéis, albergues e abrigos; hospitais públicos, ONGs, inúmeras instituições e entidades benemerentes (fundamentais para manter vivo um bom número de usuários do crack).

Crítica à lei da apropriação capitalista

No campo de análise marxista, uma das tentativas contemporâneas de fornecer um diagnóstico histórico contemporâneo reavalia o papel da “acumulação originária”. A acumulação de capital baseada na violência não seria uma etapa “originária” e nem uma forma exterior ao capitalismo, pois, por meio da violência de Estado, o capital criaria e preservaria as “condições assimétricas” da troca de mercadorias e a “acumulação por despossessão” (D. Harvey). Distintamente, no campo da filosofia política, uma outra tentativa de diagnosticar os problemas sociais contemporâneos baseia-se, principalmente, nos conceitos de W. Benjamin e M. Foucault. Esse ponto de vista procura analisar de maneira abrangente a “estrutura originária da estatalidade” e diagnostica que o Estado de exceção tende a se apresentar como paradigma de governo dominante na política contemporânea (G. Agamben).