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A contradição imanente do capital

§ 1 – Minha comunicação é um dos resultados de minha pesquisa de mestrado concluída em 2010 na Unicamp, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos L. Müller. Meu objetivo era analisar o conceito marxiano de Acumulação Originária. Faço essa consideração apenas para dizer que minha compreensão da concepção marxiana de contradição é limitada, pois não foi propriamente meu objeto de análise. Mas procurei incluir também nesta comunicação alguns resultados parciais de minha pesquisa de doutorado, que iniciei neste ano de 2010 e que objetiva de estudar, num primeiro momento, uma linha do pensamento alemão marxista das décadas de 1960-1970, conhecida como “neue Marx-Lektüre”.

História e Consciência de Classe

A partir de uma excelente exposição do pensamento de Engels sobre a contradição entre os motivos que fazem os homens agir e as forças históricas que fazem tais motivos surgir, Lukács vai além e cria um edifício de arrazoados sobre um assunto que não mereceu atenção, quer de Marx quer de Engels: “a consciência de classe”.

O novo tema adquiriu interesse quando da vitória bolchevique na Rússia e das inevitáveis comparações do partido russo com a social-democracia da Europa Ocidental. A todos os esperançosos no futuro da Revolução de Outubro pareceu que os bolcheviques teriam atingido um “nível de consciência” superior, capaz de iluminar o caminho para o socialismo. Esperança que depois se frustrou. De qualquer modo, o novo debate foi mal enfocado. Marx, provavelmente, teria preferido discutir até que ponto o Partido Bolchevique vitorioso estaria sendo uma expressão consciente do processo histórico, mais do que saber se os bolcheviques teriam atingido uma consciência de classe maior ou menor do que a dos militantes dos demais partidos operários.

O outro lado da moeda

O presente artigo busca reunir elementos a partir da perspectiva crítica marxista para resgatar o conteúdo anticapitalista dos instrumentos políticos que a classe trabalhadora criou historicamente, de modo a ter elementos para uma reflexão acerca da originalidade dos instrumentos políticos da classe trabalhadora no Brasil como potencial de fazer luta anticapitalista.

Está colocado para estas reflexões o exame dos desafios do enfrentamento entre capital e trabalho em tempos de valorização do capital por dominância financeira que nos remete ao entendimento em Marx que só como dinheiro mundial a forma dinheiro encontra a forma adequada ao conteúdo do dinheiro, ou seja, em sua forma abstrata com vínculo tênue ou inexistente com o processo produtivo e livre dos limites da forma de moeda emitida pelo poder de senhoriagen dos Estados nacionais. O “outro lado da moeda” seria examinar o movimento dos trabalhadores enquanto classe organizada, no sentido de que – assim como a forma dinheiro – é só como movimento mundial em confronto com o capital que o “proletariado” encontra seu conteúdo.

A obscuridade da experiência contemporânea

Nos dias de hoje dizer que o intelectual vive numa torre de marfim soa como uma espécie de preconceito ultrapassado. Como bem lembrou Roberto Schwarz nos anos 1990: “Nunca fomos tão engajados.” Tão empenhados na administração pública, num partido, num departamento da universidade, numa firma de pesquisa, num sindicato, numa associação de profissionais liberais, no ensino secundário, numa ONG, num setor de relações públicas, numa redação de jornal, etc.

Também é preciso dizer que hoje a procura tácita dos intelectuais por seus supostos interlocutores está completamente modificada – se tivermos como paradigma os séculos XVIII, XIX e início do XX – com a integração cultural e política daqueles que um dia podiam ser chamados de excluídos.

E assim sendo, como pensar o engajamento intelectual nos dias de hoje em que o modo de vida capitalista se torna cada vez mais insuportável e, ao mesmo tempo, cada vez mais inquestionável (pensar um novo modo de vida hoje soa tão ridículo como os sonhos do personagem dostoiévskiano)? Voltando com a ideia do pensador isolado em sua torre de marfim? Sendo responsável dentro de uma instituição e fazendo realpolitik? Ou então, bancando certo radicalismo sem a contrapartida de uma sociedade em movimento, ou seja, fazendo lobby de si mesmo?

Enfrentar a grande crise

Segundo Clément Juglar (1819-905), o teórico dos ciclos econômicos, a riqueza das nações pode ser medida pela violência das crises que atravessam. Sendo assim, pode-se dizer que desde agosto de 2007 os Estados Unidos estão demonstrando que continuam sendo a nação mais rica do mundo. E em setembro do ano seguinte, o mundo percebeu que não será mero espectador dessa demonstração.

Também percebeu que a serenidade de Juglar não é algo comum entre os economistas de hoje, pois o que mais se vê são comentários indignados sobre os riscos assumidos por bancos e grandes empresas do planeta, e sugestões de novas regras de avaliação e controle das atividades financeiras.

Vem aí uma catástrofe biopolítica sem precedentes

“O segundo grande acontecimento econômico, que acelerou a erupção da revolução, foi uma crise geral do comércio e da indústria da Inglaterra; já anunciada no outono de 1845, durante a derrota maciça dos especuladores em ações de caminhos de ferro, estendida durante o ano de 1846 através de uma série de pontos incidentes como a iminente abolição da alfândega de cereais, eclodiu finalmente no outono de 1847 nas bancarrotas de grandes mercadores coloniais londrinos, as quais sucederam sobre os pés a falência de bancos do país e o fechamento das fábricas em distritos industriais ingleses. Ainda não estava esgotada a consequência dessa crise sobre o continente quando a revolução de fevereiro eclodiu.”1MARX, K. Die Klassenkämpfe in Frankreich 1848 bis 1850. In: MARX, K.; ENGELS, F. Ausgewählte Werke. Digitale Bibliothek Band 11. Berlin: Directmedia, 1998. CD-ROM. p. 10.

Começo com esta citação do texto de Marx As lutas de classe na França de 1848 a 1850 não com o objetivo de fazer uma digressão histórica sobre o período de nascimento do movimento dos trabalhadores franceses e europeus, mas apenas com o objetivo de tecer algumas considerações, sem rigor sistemático e apenas com a intenção de contribuir para um debate, sobre a contemporânea “crise do subprime”, que tem seu epicentro no mercado imobiliário norte-americano, mas abarca todo o sistema financeiro mundial.

O termidor da Revolução Russa

Toda revolução, no sentido próprio do termo (adquirido a partir da Revolução Francesa), é uma crise de dominação de uma classe social. O conjunto de acontecimentos que constituem tal crise põe em movimento um processo de derrubada de uma classe social dominante. Evidentemente, tal tendência pode não se realizar e a dominação em vigor pode sobreviver à crise; ou pode se realizar a meias, dando origem a uma dominação renovada, em que parte das classes sociais antes subalternas passa a partilhar o poder com parte da classe previamente dominante (como ocorreu na Revolução Inglesa). Mas no caso em que a revolução se desenvolve até suas últimas consequências há uma mudança qualitativa nas relações de dominação, trazida pelo exercício do poder por uma nova classe social.