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Do objeto útil ao valor

“A riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma imensa coleção de mercadorias.”

Karl Marx, “O Capital”, primeiro parágrafo do primeiro capítulo.

1. A Origem das Mercadorias

1.1. Coisas e Mercadorias

Riqueza, em termos gerais, é o conjunto das coisas capazes de satisfazer necessidades. Muito mais do que nos modos de produção precedentes, em que as trocas estavam menos desenvolvidas, a riqueza no modo de produção capitalista é constituída por mercadorias. Pois tudo que é apreciado na sociedade capitalista é comerciável e nela quem nada tem para vender e nada pode comprar não tem acesso à riqueza.

A contradição imanente do capital

§ 1 – Minha comunicação é um dos resultados de minha pesquisa de mestrado concluída em 2010 na Unicamp, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos L. Müller. Meu objetivo era analisar o conceito marxiano de Acumulação Originária. Faço essa consideração apenas para dizer que minha compreensão da concepção marxiana de contradição é limitada, pois não foi propriamente meu objeto de análise. Mas procurei incluir também nesta comunicação alguns resultados parciais de minha pesquisa de doutorado, que iniciei neste ano de 2010 e que objetiva de estudar, num primeiro momento, uma linha do pensamento alemão marxista das décadas de 1960-1970, conhecida como “neue Marx-Lektüre”.

História e Consciência de Classe

A partir de uma excelente exposição do pensamento de Engels sobre a contradição entre os motivos que fazem os homens agir e as forças históricas que fazem tais motivos surgir, Lukács vai além e cria um edifício de arrazoados sobre um assunto que não mereceu atenção, quer de Marx quer de Engels: “a consciência de classe”.

O novo tema adquiriu interesse quando da vitória bolchevique na Rússia e das inevitáveis comparações do partido russo com a social-democracia da Europa Ocidental. A todos os esperançosos no futuro da Revolução de Outubro pareceu que os bolcheviques teriam atingido um “nível de consciência” superior, capaz de iluminar o caminho para o socialismo. Esperança que depois se frustrou. De qualquer modo, o novo debate foi mal enfocado. Marx, provavelmente, teria preferido discutir até que ponto o Partido Bolchevique vitorioso estaria sendo uma expressão consciente do processo histórico, mais do que saber se os bolcheviques teriam atingido uma consciência de classe maior ou menor do que a dos militantes dos demais partidos operários.

O outro lado da moeda

Charge de cabo de guerra entre explorados e exploradores

O presente artigo busca reunir elementos a partir da perspectiva crítica marxista para resgatar o conteúdo anticapitalista dos instrumentos políticos que a classe trabalhadora criou historicamente, de modo a ter elementos para uma reflexão acerca da originalidade dos instrumentos políticos da classe trabalhadora no Brasil como potencial de fazer luta anticapitalista.

Está colocado para estas reflexões o exame dos desafios do enfrentamento entre capital e trabalho em tempos de valorização do capital por dominância financeira que nos remete ao entendimento em Marx que só como dinheiro mundial a forma dinheiro encontra a forma adequada ao conteúdo do dinheiro, ou seja, em sua forma abstrata com vínculo tênue ou inexistente com o processo produtivo e livre dos limites da forma de moeda emitida pelo poder de senhoriagen dos Estados nacionais. O “outro lado da moeda” seria examinar o movimento dos trabalhadores enquanto classe organizada, no sentido de que – assim como a forma dinheiro – é só como movimento mundial em confronto com o capital que o “proletariado” encontra seu conteúdo.

Crítica à lei da apropriação capitalista

No campo de análise marxista, uma das tentativas contemporâneas de fornecer um diagnóstico histórico contemporâneo reavalia o papel da “acumulação originária”. A acumulação de capital baseada na violência não seria uma etapa “originária” e nem uma forma exterior ao capitalismo, pois, por meio da violência de Estado, o capital criaria e preservaria as “condições assimétricas” da troca de mercadorias e a “acumulação por despossessão” (D. Harvey). Distintamente, no campo da filosofia política, uma outra tentativa de diagnosticar os problemas sociais contemporâneos baseia-se, principalmente, nos conceitos de W. Benjamin e M. Foucault. Esse ponto de vista procura analisar de maneira abrangente a “estrutura originária da estatalidade” e diagnostica que o Estado de exceção tende a se apresentar como paradigma de governo dominante na política contemporânea (G. Agamben).

A obscuridade da experiência contemporânea

Walter Benjamin na Biblioteca Nacional Francesa

Nos dias de hoje dizer que o intelectual vive numa torre de marfim soa como uma espécie de preconceito ultrapassado. Como bem lembrou Roberto Schwarz nos anos 1990: “Nunca fomos tão engajados.” Tão empenhados na administração pública, num partido, num departamento da universidade, numa firma de pesquisa, num sindicato, numa associação de profissionais liberais, no ensino secundário, numa ONG, num setor de relações públicas, numa redação de jornal, etc.

Também é preciso dizer que hoje a procura tácita dos intelectuais por seus supostos interlocutores está completamente modificada – se tivermos como paradigma os séculos XVIII, XIX e início do XX – com a integração cultural e política daqueles que um dia podiam ser chamados de excluídos.

E assim sendo, como pensar o engajamento intelectual nos dias de hoje em que o modo de vida capitalista se torna cada vez mais insuportável e, ao mesmo tempo, cada vez mais inquestionável (pensar um novo modo de vida hoje soa tão ridículo como os sonhos do personagem dostoiévskiano)? Voltando com a ideia do pensador isolado em sua torre de marfim? Sendo responsável dentro de uma instituição e fazendo realpolitik? Ou então, bancando certo radicalismo sem a contrapartida de uma sociedade em movimento, ou seja, fazendo lobby de si mesmo?

A grande crise rastejante

A crise econômica atual, irrompida em 2008, embora tenha produzido no mundo maior destruição de capital e emprego do que a Grande Depressão, já está sendo considerada declinante ou encerrada pela maioria dos economistas. Os porta-vozes de mais de um governo, principalmente na área capitalista periférica, estão anunciando o “fim da crise” e alguns, como o Brasil, já estão falando até em “pós-crise”. Como é isso possível?