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Governança mundial e pobreza

Esta tese procura descrever uma convergência política que teve lugar na década de 1990 entre o Banco Mundial e as Nações Unidas em torno de uma nova estratégia de desenvolvimento. Dois processos em curso nesse momento foram centrais. De um lado, revisões internas críticas às reformas neoliberais repercutiram em modulações na agenda de desenvolvimento do Banco Mundial em direção à nova agenda da boa governança. De outro, no âmbito das Nações Unidas, o desenvolvimento era redefinido como um processo de expansão de oportunidades no lugar do acúmulo de riqueza.

Ambos os processos convergem numa nova estratégia que passava a enfatizar o desenvolvimento das pessoas e não mais das nações, formulada na separação entre a produção da riqueza e a pobreza. A pobreza deve ser reduzida, controlada em níveis aceitáveis e mobilizada para dar sequência às reformas de liberalização econômica. O que está em jogo nessa convergência é a construção de novas referências normativas que apontam para possíveis indiferenciações entre as práticas da esquerda e da direita no espectro político internacional.

Acumulação de capital e desigualdades

Esta tese nos leva a questionar a sustentabilidade da acumulação chinesa e a apontar os elementos que esse país tem em comum com o Brasil. A dinâmica do processo de acumulação na China e no Brasil é considerada a partir do comportamento de empresas nacionais e estrangeiras, bem como da estrutura socioeconômica desses dois países. Primeiramente, apresentamos as características da evolução histórica da China para compreender melhor a situação atual. Destacam-se, assim, as razões pelas quais o desenvolvimento econômico se deu de maneiras distintas na China e no Brasil, bem como sua articulação historicamente diferenciada com o sistema capitalista mundial.

Enfrentar a grande crise

Segundo Clément Juglar (1819-905), o teórico dos ciclos econômicos, a riqueza das nações pode ser medida pela violência das crises que atravessam. Sendo assim, pode-se dizer que desde agosto de 2007 os Estados Unidos estão demonstrando que continuam sendo a nação mais rica do mundo. E em setembro do ano seguinte, o mundo percebeu que não será mero espectador dessa demonstração.

Também percebeu que a serenidade de Juglar não é algo comum entre os economistas de hoje, pois o que mais se vê são comentários indignados sobre os riscos assumidos por bancos e grandes empresas do planeta, e sugestões de novas regras de avaliação e controle das atividades financeiras.

Por que estamos sozinhos?

Manifestação da USP

Quando a crise econômica se evidenciou com toda a sua força no sistema financeiro, em meados de setembro de 2008, circulou num jornal de grande divulgação de São Paulo uma coluna com uma constatação pertinente, a de que estamos diante da primeira crise global do capitalismo sem adversário. Nesse contexto novo, é pertinente perguntar pelo desdobramento político da crise. Apesar da previsão de alguns economistas de que, no plano econômico, ela se estenderá em razão das características do dólar como dinheiro mundial e dinheiro de crédito, podemos afirmar que, no plano político, hoje o que a população mais anseia é pela resolução breve da crise, pelo retorno do crescimento econômico e do nível de emprego.

Faço essas considerações soltas apenas para trazer para a reflexão esse anseio da população por uma certa “normalidade” não problematizada, pois, analogamente, entrando aqui diretamente no nosso assunto, toda vez que funcionários, professores e estudantes entram em greve, o que a maioria da população dentro da universidade anseia é pelo retorno à normalidade das aulas e pesquisas. Em geral, a população universitária já se acostumou com as greves, encarando-as como uma “anomalia” restrita aos períodos de negociação salarial, à qual, pelo menos na maioria das vezes, os estudantes se juntam incorporando “reivindicações abstratas”. Em geral também, essas reivindicações são feitas por uma minoria dos cursos da área de humanidades. A pergunta sobre a qual gostaria de refletir é por que a agitação política se restringe, salvo algumas exceções, à área de humanas? Meu objetivo aqui é apenas sugerir por que essa pergunta é pertinente e esboçar a seguinte resposta: essa agitação política aparece como uma anomalia localizada na área de humanidades, mas é, essencialmente, o resultado histórico da falta de uma reflexão no país sobre a formação de um sentido integrador das diferentes dimensões da experiência humana.

Trabalho informal e redes de subcontratação

Este estudo discute as redes de subcontratação e o trabalho informal no circuito das confecções em São Paulo. A partir de uma região periférica na zona leste da cidade tratou-se de averiguar as relações entre trabalho e o espaço urbano no qual essas confecções têm se instalado. O processo de reestruturação produtiva da indústria de confecções durante a década de 1990 fez multiplicar as chamadas oficinas de fundo de quintal e o trabalho a domicílio nos bairros das ex-costureiras das fábricas pelas vias de redes de subcontratação e do trabalho informal.

As ex-operárias mobilizam familiares e vizinhos no trabalho, estabelecendo redes sociais pelas quais circulam as encomendas de costura. Associado a esta dinâmica, esse circuito também vem mobilizando os fluxos da migração clandestina dos bolivianos, que já podem ser encontrados nos locais mais distantes do extremo leste da cidade.

Vem aí uma catástrofe biopolítica sem precedentes

“O segundo grande acontecimento econômico, que acelerou a erupção da revolução, foi uma crise geral do comércio e da indústria da Inglaterra; já anunciada no outono de 1845, durante a derrota maciça dos especuladores em ações de caminhos de ferro, estendida durante o ano de 1846 através de uma série de pontos incidentes como a iminente abolição da alfândega de cereais, eclodiu finalmente no outono de 1847 nas bancarrotas de grandes mercadores coloniais londrinos, as quais sucederam sobre os pés a falência de bancos do país e o fechamento das fábricas em distritos industriais ingleses. Ainda não estava esgotada a consequência dessa crise sobre o continente quando a revolução de fevereiro eclodiu.”1MARX, K. Die Klassenkämpfe in Frankreich 1848 bis 1850. In: MARX, K.; ENGELS, F. Ausgewählte Werke. Digitale Bibliothek Band 11. Berlin: Directmedia, 1998. CD-ROM. p. 10.

Começo com esta citação do texto de Marx As lutas de classe na França de 1848 a 1850 não com o objetivo de fazer uma digressão histórica sobre o período de nascimento do movimento dos trabalhadores franceses e europeus, mas apenas com o objetivo de tecer algumas considerações, sem rigor sistemático e apenas com a intenção de contribuir para um debate, sobre a contemporânea “crise do subprime”, que tem seu epicentro no mercado imobiliário norte-americano, mas abarca todo o sistema financeiro mundial.

Contradições que movem o valor

Uma análise a partir do ‘Capital’ de Karl Marx

Vito Letizia, 9 de agosto de 2005.

Marx demonstrou que as formas de manifestação do valor decorrem das contradições sociais que põem em movimento as mercadorias. Com esse método crítico, ele estudou o valor na sociedade capitalista, com os desdobramentos acarretados pela expansão e diversificação da produção capitalista de mercadorias.

A teoria crítica do valor não deve ser confundida com a teoria do valor-trabalho de Adam Smith. Porque, embora ambas teorias reconheçam o trabalho como fundamento da quantificação do valor, “trabalho” e “valor” não têm o mesmo sentido em Marx e Adam Smith. Enquanto este último atribui valor de uso e valor de troca a todas as “coisas” (ou “bens”), Marx distingue as mercadorias, com valor de uso e valor, dos simples objetos úteis, que só têm valor de uso. Valor é o conteúdo social, próprio das mercadorias. Estas surgem ao longo da evolução histórica das sociedades humanas, como resultado da necessidade de trocar produtos de trabalhos diferentes. E as relações de troca necessárias criam a vida social das mercadorias, que é o que lhes dá um conteúdo diferente do conteúdo social dos objetos úteis trocados como presentes e do conteúdo natural dos objetos nunca trocados.