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1º de maio de 1980

Há 40 anos, mais de 150 mil metalúrgicos tomaram o estádio da Vila Euclides em São Bernardo do Campo (ABC). Nesse período atravessado por sucessivas paralisações nos anos anteriores, a deflagração da ditadura militar implantada em 1964 abriu caminho pela luta por direitos trabalhistas, aumento salarial e melhores condições de vida. Assim, diante de uma conjuntura danosa aos operários, nasceu uma das maiores mobilizações do país até então.

Contexto

O reflexo das greves de 1978 e 1979, as manifestações contra o arrocho salarial e pela volta dos exilados políticos deram resultados. Em fevereiro de 1980 com a grande articulação entre sindicatos de todo o país, nasce o PT, sendo oficializado como partido político em 10 de fevereiro do mesmo ano pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Neste cenário as greves e as manifestações públicas cresceram cada vez mais. Diante disto, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, que estava em greve desde o dia 1º de abril, com a diretoria cassada e sob a proteção da Igreja Católica, convocou o 1º de Maio para o Estádio da Vila Euclides, sob as bandeiras da “liberdade e autonomia sindical, direito de greve, garantia de emprego, salário mínimo nacional real e unificado”.

Entretanto, devido às manifestações que já ocorriam há 2 anos, o líder sindicalista que estava na linha de frente das greves, Lula, foi preso sem mandado judicial no dia 19 de abril de 1980. Naquele momento, os militares acreditavam que com o encarceramento do líder, as manifestações cessariam ou diminuiriam de forma drástica. Quando foi detido, não se fazia ideia dos motivos do encarceramento, muito menos quando ele poderia ser libertado. A greve por aumento salarial continuava.

Lula e outros 10 dirigentes foram condenados a penas entre dois anos e seis meses de prisão por “incitação à desobediência coletiva das leis”, prevista pelos Atos Institucionais. Em virtude do não-comparecimento da defesa, o julgamento foi anulado pelo Superior Tribunal Militar (STM), mas um novo juízo, em novembro, confirmou as sentenças. Ao julgar um recurso dos condenados, o STM anulou todo o processo.

Já com a volta do líder sindical ao ABC, a situação era outra, e ainda mais sobrecarregada. Quando o 1º de Maio daquele ano chegou, os metalúrgicos já estavam em greve há 34 dias. A campanha salarial se dava sempre às vésperas do Dia do Trabalhador. Sem comparecerem às fábricas, os metalúrgicos se concentraram na igreja do Largo da Matriz, no centro de São Bernardo Campo, onde o bispo do ABC, d. Cláudio Hummes, dava abertura para que o grande salão de festas abrigasse os mantimentos recolhidos pelo Fundo de Greve. Quando chegaram para a missa em homenagem ao Dia do Trabalhador e para iniciar a caminhada até a concentração marcada para Vila Euclides, os metalúrgicos encontraram a praça tomada por 8 mil policiais militares.

A situação era de enfrentamento. Uma viatura policial tentou estacionar no meio da concentração de trabalhadores, de modo a dispersá-los, de acordo com o jornal O Trabalho. Mas o que ocorreu foi diferente: a polícia é que teve de sair. Vencida a repressão, os trabalhadores rumaram para o estádio e, lá, realizaram o maior 1º de Maio de protesto que o Brasil já assistira, com mais de 150 mil trabalhadores concentrados na Vila Euclides para dizer “abaixo a ditadura” e ouvir o discurso de Lula:

“Agora companheiros, depois de dois dias de ausência nós voltamos aqui, a diretoria do Sindicato volta para assumir a greve que nós começamos no dia 13. Todos vocês sabem o que fazer. Existe um trabalho a ser feito nos bairros, nos pontos de ônibus, e o que é mais importante, ninguém ir à porta da fábrica. Agora, é um pedido que faço, não saiam em passeata, saiam daqui direto para suas casas.” (ABC de Luta, 1º Maio, 1980.)

A História estava sendo feita, a mudança estava posta, e os 40 anos que se seguiram trazem as memórias daquele dia relembrável, no estádio da Vila Euclides.

Pesquisa e redação por Thiago S. Annunziato.

(*) A montagem que abre este post foi produzida com imagens da greve de 1980, do jornal O Trabalho, do ABC de Luta e da Tribuna Metalúrgica, abrigados no Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa (Cemap). A foto da ficha de Lula no Dops é do Instituto Lula.

Publicado em:Greve ABC 1980,História

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