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Por que estamos sozinhos?

Manifestação da USP

Quando a crise econômica se evidenciou com toda a sua força no sistema financeiro, em meados de setembro de 2008, circulou num jornal de grande divulgação de São Paulo uma coluna com uma constatação pertinente, a de que estamos diante da primeira crise global do capitalismo sem adversário. Nesse contexto novo, é pertinente perguntar pelo desdobramento político da crise. Apesar da previsão de alguns economistas de que, no plano econômico, ela se estenderá em razão das características do dólar como dinheiro mundial e dinheiro de crédito, podemos afirmar que, no plano político, hoje o que a população mais anseia é pela resolução breve da crise, pelo retorno do crescimento econômico e do nível de emprego.

Faço essas considerações soltas apenas para trazer para a reflexão esse anseio da população por uma certa “normalidade” não problematizada, pois, analogamente, entrando aqui diretamente no nosso assunto, toda vez que funcionários, professores e estudantes entram em greve, o que a maioria da população dentro da universidade anseia é pelo retorno à normalidade das aulas e pesquisas. Em geral, a população universitária já se acostumou com as greves, encarando-as como uma “anomalia” restrita aos períodos de negociação salarial, à qual, pelo menos na maioria das vezes, os estudantes se juntam incorporando “reivindicações abstratas”. Em geral também, essas reivindicações são feitas por uma minoria dos cursos da área de humanidades. A pergunta sobre a qual gostaria de refletir é por que a agitação política se restringe, salvo algumas exceções, à área de humanas? Meu objetivo aqui é apenas sugerir por que essa pergunta é pertinente e esboçar a seguinte resposta: essa agitação política aparece como uma anomalia localizada na área de humanidades, mas é, essencialmente, o resultado histórico da falta de uma reflexão no país sobre a formação de um sentido integrador das diferentes dimensões da experiência humana.

Trabalho informal e redes de subcontratação

Este estudo discute as redes de subcontratação e o trabalho informal no circuito das confecções em São Paulo. A partir de uma região periférica na zona leste da cidade tratou-se de averiguar as relações entre trabalho e o espaço urbano no qual essas confecções têm se instalado. O processo de reestruturação produtiva da indústria de confecções durante a década de 1990 fez multiplicar as chamadas oficinas de fundo de quintal e o trabalho a domicílio nos bairros das ex-costureiras das fábricas pelas vias de redes de subcontratação e do trabalho informal.

As ex-operárias mobilizam familiares e vizinhos no trabalho, estabelecendo redes sociais pelas quais circulam as encomendas de costura. Associado a esta dinâmica, esse circuito também vem mobilizando os fluxos da migração clandestina dos bolivianos, que já podem ser encontrados nos locais mais distantes do extremo leste da cidade.

Vem aí uma catástrofe biopolítica sem precedentes

“O segundo grande acontecimento econômico, que acelerou a erupção da revolução, foi uma crise geral do comércio e da indústria da Inglaterra; já anunciada no outono de 1845, durante a derrota maciça dos especuladores em ações de caminhos de ferro, estendida durante o ano de 1846 através de uma série de pontos incidentes como a iminente abolição da alfândega de cereais, eclodiu finalmente no outono de 1847 nas bancarrotas de grandes mercadores coloniais londrinos, as quais sucederam sobre os pés a falência de bancos do país e o fechamento das fábricas em distritos industriais ingleses. Ainda não estava esgotada a consequência dessa crise sobre o continente quando a revolução de fevereiro eclodiu.”1MARX, K. Die Klassenkämpfe in Frankreich 1848 bis 1850. In: MARX, K.; ENGELS, F. Ausgewählte Werke. Digitale Bibliothek Band 11. Berlin: Directmedia, 1998. CD-ROM. p. 10.

Começo com esta citação do texto de Marx As lutas de classe na França de 1848 a 1850 não com o objetivo de fazer uma digressão histórica sobre o período de nascimento do movimento dos trabalhadores franceses e europeus, mas apenas com o objetivo de tecer algumas considerações, sem rigor sistemático e apenas com a intenção de contribuir para um debate, sobre a contemporânea “crise do subprime”, que tem seu epicentro no mercado imobiliário norte-americano, mas abarca todo o sistema financeiro mundial.

O termidor da Revolução Russa

Toda revolução, no sentido próprio do termo (adquirido a partir da Revolução Francesa), é uma crise de dominação de uma classe social. O conjunto de acontecimentos que constituem tal crise põe em movimento um processo de derrubada de uma classe social dominante. Evidentemente, tal tendência pode não se realizar e a dominação em vigor pode sobreviver à crise; ou pode se realizar a meias, dando origem a uma dominação renovada, em que parte das classes sociais antes subalternas passa a partilhar o poder com parte da classe previamente dominante (como ocorreu na Revolução Inglesa). Mas no caso em que a revolução se desenvolve até suas últimas consequências há uma mudança qualitativa nas relações de dominação, trazida pelo exercício do poder por uma nova classe social.

A Revolução Francesa de 1789

Cerco ao Palácio das Tulherias, em 10 de agosto de 1792.

A crise final da monarquia absolutista francesa nos últimos decênios do século 18 foi o estouro de contradições acumuladas ao longo de mais de 150 anos, decorrentes de suas próprias medidas contra a crise que atravessara na primeira metade do século anterior, na mesma época da Revolução Inglesa.

Luís XI (1461-1483) dera início à construção do Estado nacional francês, ao promover a burguesia das cidades comerciais e associá-la à administração do reino. Fizera-o para submeter os grandes feudatários, acostumados à rebeldia durante a Guerra dos Cem Anos, recém-terminada (1453). Mas, ao associar-se à burguesia mercantil, lançara as bases do Estado nacional, pois a nação é uma criação da burguesia. Em sua luta contra o particularismo feudal, Luís XI confirmara e ampliara as milícias burguesas das cidades – as quais colocaram à sua disposição uma poderosa infantaria (já dispondo de artilharia) –, que o tornaram menos dependente do serviço de hoste da nobreza. Ao mesmo tempo, os ministros burgueses de que se rodeara deram início a uma nova forma de administração do Estado, mais favorável aos interesses mercantis.

A pesada herança histórica da China moderna

Retomada de Anqing, durante a Revolta Taiping (1850-1864)
A retomada de Anqing, durante a Revolta Taiping (1850-1864)

Os romanos chamavam de Serica o desconhecido país de onde vinha a seda, intermediada pelos povos da Ásia Central e do Oriente Médio. Correspondia ao que hoje é a China do Norte, excluída a Mongólia. Ali, a partir de aproximadamente 1050 a.C., surgiram, no vale médio do rio Amarelo (Huang he), uma série de Estados que foram se estendendo para o sul, para o vale do rio Azul (Chang jiang, mais conhecido como Yangzi). Esses Estados foram pela primeira vez unificados em 221 a.C. e, pouco depois (202 a.C.), o império assim criado passou a ser governado pela dinastia Han, que, com um pequeno interregno entre 6 e 25 d.C., durou até 196 d.C., ou seja, durou quase 400 anos. Daí o uso do nome “Han” para designar etnicamente os chineses. Esse império, a partir de cerca de 100 d.C., passou a dominar mais uma área ao sul do rio Yangzi, hoje constituída pela província de Guangdong, onde está o importante centro econômico de Cantão. Todos os habitantes dessas áreas se consideram Han e falam línguas do grupo mandarim e algumas outras de características semelhantes, das quais uma, o mandarim de Pequim e províncias vizinhas, é a língua chinesa oficial. Mas nem todos os povos da China atual são Han ou mesmo se consideram chineses, e nem todos os habitantes da China atual são considerados chineses autênticos pelos Han.

Contradições que movem o valor

Uma análise a partir do ‘Capital’ de Karl Marx

Vito Letizia, 9 de agosto de 2005.

Marx demonstrou que as formas de manifestação do valor decorrem das contradições sociais que põem em movimento as mercadorias. Com esse método crítico, ele estudou o valor na sociedade capitalista, com os desdobramentos acarretados pela expansão e diversificação da produção capitalista de mercadorias.

A teoria crítica do valor não deve ser confundida com a teoria do valor-trabalho de Adam Smith. Porque, embora ambas teorias reconheçam o trabalho como fundamento da quantificação do valor, “trabalho” e “valor” não têm o mesmo sentido em Marx e Adam Smith. Enquanto este último atribui valor de uso e valor de troca a todas as “coisas” (ou “bens”), Marx distingue as mercadorias, com valor de uso e valor, dos simples objetos úteis, que só têm valor de uso. Valor é o conteúdo social, próprio das mercadorias. Estas surgem ao longo da evolução histórica das sociedades humanas, como resultado da necessidade de trocar produtos de trabalhos diferentes. E as relações de troca necessárias criam a vida social das mercadorias, que é o que lhes dá um conteúdo diferente do conteúdo social dos objetos úteis trocados como presentes e do conteúdo natural dos objetos nunca trocados.