O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo promove hoje um ato de lançamento do livro Eu só disse meu nome, que narra a história de Alexandre Vannucchi Leme, estudante torturado e morto pela ditadura militar em 1973. A repercussão de sua morte e a tentativa dos militares de acobertá-la acabou por se transformar na primeira grande manifestação de repúdio à ditadura desde o Ato Institucional nº 5, em 1968.
O jornalista e escritor Camilo Vannuchi, autor do livro, e o diretor da Oboré, Sérgio Gomes, participarão de um bate-papo no lançamento, que começará às 19 horas, na sede do sindicato, na rua Rego Freitas, 530 – sobreloja, próximo ao Metrô República, no centro de São Paulo.
Alexandre Vannucchi Leme atuava no movimento estudantil na Universidade de São Paulo (USP), onde fazia Geologia. Ele tinha 22 anos e cursava o último ano quando foi sequestrado na rua em 16 de março de 1973 e levado para o DOI-Codi, onde foi torturado até a morte. A ditadura tentou acobertar o crime, divulgando a versão de que ele morrera atropelado ao tentar escapar da polícia. A denúncia de que isso não era verdade partiu de diferentes grupos. Alunos da USP foram procurar o arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, para pedir-lhe que fizesse uma missa na Cidade Universitária em homenagem ao estudante, o que seria uma forma de dar visibilidade ao crime. Em vez disso, d. Paulo decidiu fazer a missa na Catedral da Sé. O ato lotou a catedral com mais de 3 mil pessoas e marcou a primeira manifestação massiva contra a ditadura desde a imposição do AI-5.
O livro de Camilo Vannuchi, publicado pela Editora Discurso e pelo Instituto Vladimir Herzog, fala da infância e da adolescência de Alexandre, que era seu primo em segundo grau, no interior, da militância no movimento estudantil em São Paulo e da sua morte. E se estende para além disso, ao relatar a busca de seus pais pelos restos mortais, a luta por verdade, justiça e reparação, a fundação do Diretório Central dos Estudantes da USP, que foi batizado com seu nome, e a construção de Alexandre como símbolo de resistência ao arbítrio e de defesa da democracia.
“Achei que era o momento de contar a história dele de novo, e bem contada, porque é uma história que na própria USP, onde ele dá nome ao Diretório Central dos Estudantes, as novas gerações não sabem quem foi. A maioria vê o rosto dele em bandeiras, mas não tem ideia do que aconteceu e porque ele dá nome ao DCE”, contou Camilo em entrevista ao Jornal da Usp.
Para popularizar a história de Alexandre Vannucchi Leme, Camilo também lançou um podcast em quatro episódios, com roteiro diferente do livro e vozes de pessoas que participaram da vida do estudante. A série pode ser acessada neste link.
Jornalista e escritor especializado em direitos humanos, autor de livros-reportagem como Vala de Perus, uma biografia (Alameda e Instituto Vladimir Herzog, 2020), finalista no Prêmio Jabuti, Camilo Vannucchi foi membro e relator da Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo. É professor de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e secretário de Cultura de Diadema (SP).
Sérgio Gomes é jornalista e militou no movimento estudantil na USP, chegando a ser preso em 1975. Em 1978 ele fundou a Oboré – Projetos Especiais em Comunicações e Artes, empresa prestadora de serviços que atua em comunicação popular e promove cursos de complementação universitária para estudantes de jornalismo e oficinas de comunicação para comunicadores populares. Também integra o Conselho do Instituto Vladimir Herzog desde 2009.
Com informações do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, de um artigo de Camilo Vanucchi no Jornal da USP e de sua entrevista sobre o livro no mesmo jornal.