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Política e moral, sociedade e indivíduos

No início de junho, provocou grande repercussão uma carta aberta escrita por Roger Waters a Caetano Veloso e Gilberto Gil, em que o ex-Pink Floyd pedia aos músicos baianos que cancelassem um show cuja realização estava programada para 28 de junho, em Tel Aviv (capital de Israel). Waters é um dos organizadores do movimento internacional de boicote a Israel (BDS), cujo objetivo é impor o respeito às fronteiras da Palestina anteriores à Guerra dos Seis Dias (1967), e o estabelecimento de negociações que permitam uma paz digna e duradoura. A carta, só na primeira semana de sua divulgação na internet, obteve a adesão de mais de 10 mil pessoas, grupos e organizações.

Gil e Caetano se recusaram a cancelar o show. Isso provocou um novo debate, dentro e fora de Interludium, sobre os limites entre o engajamento em ações motivadas por uma percepção política (no caso, a adesão ao boicote) e atitudes inspirada por valores morais (participar ou não de um ato político); entre a defesa daquilo que é socialmente percebido como justo e a postura ancorada em convicções individuais, ainda quando estas se choquem com o consenso.

Roger Waters pede que Gil e Caetano cancelem show em Israel

O compositor inglês Roger Waters, ex-Pink Floyd, divulgou uma carta em que pede a Caetano Veloso e Gilberto Gil que cancelem seu show marcado para 28 de julho em Tel Aviv (Israel). Ativista da causa palestina, ligado ao movimento BDS (campanha global de boicote, desinvestimento e sanções contra Israel), Waters já convenceu outros artistas a não se apresentarem em Israel. Na carta, ele defende a luta contra as políticas “racistas e colonialistas do governo de ocupação de Israel” e lembra o “ataque brutal de Israel à população palestina de Gaza” em 2014, quando mais de 2.200 palestinos – a maioria civis – morreram na operação israelense “Margem Protetora”, que durou 70 dias. As assessorias de Gil e Caetano informaram que o show será mantido e eles não comentariam a carta.

Na internet, a seção brasileira do BDS promove um movimento chamado Tropicália não combina com apartheid, que já coletou mais e 10 mil assinaturas pelo boicote do show de Caetano e Gil.

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Abertura democrática e razão neoliberal

O Centro de Documentação e Memória (Cedem) da Unesp e Cemap-Interludium promoveram no dia 9 o debate “Abertura democrática e a razão neoliberal”, na sede do Cedem. Do ponto de vista econômico, o termo neoliberalismo não apresenta uma relação direta com o liberalismo do passado. Segundo Vito Letizia, por mais que os ideólogos do neoliberalismo falem em “mercado puro”, eles, na verdade, defendem uma simbiose entre o Estado e o mercado, em que o Estado sustenta por meio de dívidas ilegítimas a transferência de dinheiro público para as finanças.

Para estudiosos como Pierre Dardot e Christian Laval, o neoliberalismo é muito mais que um programa de privatização das empresas públicas e de flexibilização dos direitos trabalhistas. Ele é isto, mas é também uma racionalidade política que combina intervenção pública e uma concepção de mercado centrada na concorrência. Isso seria o motor das políticas neoliberais que transformam as instituições públicas e privadas, o papel do Estado e a vida dos indivíduos em “empresas”. Tendo o neoliberalismo como essa a lógica que rege o mundo, como pensar os governos de esquerda e de direita, uma vez que foram eles mesmos que criaram as regras do equilíbrio orçamentário, da estabilidade monetária, da política anti-inflacionária e os programas de equilíbrio das relações sociais?

Mais debates sobre livro de Vito Letizia

Cemap-Interludium promoveu debates na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Católica do Salvador (UCSAL) este mês para lançar o livro Contradições que movem a história do Brasil e do continente americano, de Vito Letizia. Primeiro da série “Diálogos com Vito Letizia”, organizado a partir de quase cem horas de entrevistas do grupo com o professor, o livro analisa a história do Brasil e de outros países do continente à luz dos movimentos populares e a contrapõe ao discurso oficial.

Diálogos com Vito Letizia 1

Debate marca publicação de ‘Contradições que movem a história do Brasil e do continente americano’

Contradições que movem a história do Brasil e do continente americano foi lançado em 28 de outubro, com um debate na Associação dos Professores da PUC-SP (Apropuc). É o primeiro livro da série “Diálogos com Vito Letizia”, organizado por Cemap-Interludium a partir de quase cem horas de entrevistas. Nelas, Vito preferiu partir da gênese da Revolução Francesa de 1789 para explicar todo o processo histórico subsequente, até chegar ao Brasil atual.

Ao editar a série, Cemap-Interludium optou por “iniciar pelo fim”, atendendo ao imperativo da necessidade: os tópicos abordados são da mais absoluta urgência para a esquerda brasileira. Referem-se ao caminho aberto pela empreitada colonial que resultou, cinco séculos depois, na formação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e na condução de Luiz Inácio Lula da Silva ao posto de presidente da República.

Apartheid enterra democracia em Israel

“Será melhor para Israel se livrar dos territórios [ocupados de Cisjordânia e Gaza] e de sua população árabe o mais rápido possível. Caso contrário, Israel se tornará rapidamente num Estado de tipo apartheid.” O autor da frase é um famoso antissemita raivoso, conhecido por ser seu ódio a Israel e aos judeus: Ben Gurion. A declaração foi reproduzida pelo jornalista Hirsh Goodman, ex-vice-presidente da equipe de direção do jornal Jerusalem Post e diretor de redação do Jerusalem Report, que a ouviu em 1967, durante uma entrevista de Gurion a uma emissora de rádio, logo após a Guerra dos Seis Dias. Ele próprio oriundo da África do Sul, escreveu em seu livro de memórias Let Me Create a Paradise, God Said to Himself (Deixe-me criar um Paraíso, Deus disse a si mesmo): “Aquela frase: ‘Israel se tornará num Estado de tipo apartheid’ ficou martelando na minha cabeça.”

Em 2013, Alon Liel, ex-embaixador israelense na África do Sul, declarou: “Na situação que existe hoje, até que um Estado palestino seja criado, somos de fato um único Estado. Este Estado conjunto – na esperança de que seu status quo seja temporário – é um Estado de apartheid.” Em 2010, foi a vez do então ministro da Defesa (2007-2013), o ex-primeiro-ministro Ehud Barak (1999-2001), durante uma palestra pronunciada na Conferência de Herzliya, um centro formulador de estratégia política do Estado judaico: “Enquanto neste território, a oeste do rio Jordão, houver apenas uma entidade política chamada Israel, ela será ou não judaica, ou não democrática. Se o contingente de milhões de palestinos não puder votar, então será um Estado de apartheid.” Em 2007, o então primeiro-ministro Ehud Olmert (2006-2009) afirmou: “Se chegar o dia em que a solução de dois Estados entrar em colapso, e enfrentarmos uma luta ao estilo sul-africano de iguais direitos de voto (também para os palestinos nos territórios), então, assim que isso acontecer, o Estado de Israel terá chegado ao seu fim.”

O petróleo é nosso?

Muito se falou antes e depois da realização do leilão para a exploração do campo de Libra, localizado na Bacia de Santos, na camada do pré-sal. Os argumentos mais alinhados com o governo justificam aquilo que chamam de parceria, baseados no fato de a Petrobras não ter recursos disponíveis para investir na exploração e de o endividamento atual da empresa já ser bastante robusto. Outros, notadamente ex-integrantes do corpo diretivo da Petrobras, fazem críticas de cunho mais nacionalista e apontam perdas financeiras significativas pelo fato de a Petrobras ter se dissolvido em um consórcio onde a maioria do capital (60%) pertence a empresas estrangeiras.

Mais do que um alinhamento com qualquer das correntes em conflito, e sabendo que ambas são movidas por interesses, embora travestidos de profunda ideologia, cabe agora avaliar o que representa o resultado efetivo do leilão, os recursos que já gerou, os R$ 15 bilhões de bônus, e o que gerará no futuro, tudo isso obrigatoriamente destinado às finalidades da Lei 12.351, assinada pelo então presidente Lula.