A vida continua!
Nivaldo Bastos
Tenho visto, após a eleição um tal grau de desespero que até parece que um tsunami arrasou com o país e agora é barbárie, pau de arara, etc.
Até boas lideranças de esquerda passaram a atuar como pastores religiosos, anunciando quase o fim do mundo e, como se fosse por vontade divina, nada se pode fazer.
Talvez se esconder em uma gruta…
Calma gente!! Foi só uma eleição e, como nos acostumamos a ganhar – o que ressaltou muito o caráter eleitoral do partido em detrimento de suas origens sindicais –, gerou um desânimo, porque agora só temos uns poucos deputados a nos defender.
Continua muito importante o PT como expressão política do projeto de sociedade dos trabalhadores. Isso está bastante enraizado em grande parte da população, que disse não ao projeto individualista e destemperado do Ciro, apoiando mesmo que com muitas reservas a opção Haddad; afinal o PT é o ÚNICO partido que sobreviveu no país.
Mas o Brasil não é uma ilha. O globo ainda é governado pelas corporações e seus políticos. Em muitos países, até com mais conquistas sociais do que o nosso, partidos de extrema direita nacionalista e racista têm sido alçados ao poder. É uma conjuntura desfavorável, agravada pelo fato de a esquerda ainda não ter encontrado uma forma de se livrar da tradição horrorosa das experiências stalinistas.
No Brasil, que não é uma ilha e sofre como toda a América Latina, sofremos uma derrota eleitoral, mas peitamos do início ao fim, mesmo com fake news e mídia golpista e Lula preso.
A classe dominante teve que se agarrar ao plano D pelo fracasso de Alckmin, Meireles e Amoedo. Engolir o Bolsonaro e seus bolsominions é ruim até para os golpistas. Imaginem terem que dialogar a Globo e o Edir Macedo!!
E agora que acabou a eleição, vida para a frente. Não iremos enfrentar o governo com discursos inflamados de parlamentares, sejam do PT ou do PSOL. Isso só terá efeito se eles reproduzirem no parlamento as palavras de ordem das ruas.
Hoje, mais do que nunca, a classe trabalhadora e sua vanguarda devem voltar a disputar os sindicatos e representar as suas bases de fato, não se conformando com a perda do dinheiro fácil (imposto sindical) e buscando se legitimar nas categorias, coisa que se perdeu há muito tempo.
Fora do poder, acabou a “mordomia” de exigir… tem que voltar a conquistar.
A classe trabalhadora não foi derrotada, porque eleição é um momento e não um fim, e precisa se reorganizar nas novas condições, inclusive sabendo que precisa até de defesa física contra agressores e provocadores.
Fórmulas vazias, como frente de esquerdas e resistência ao fascismo, sugerem acordos genéricos de cúpula e isso tem alcance muito limitado, mais servindo para consolo nas listas virtuais.
Por fim, mas não menos importante, não podemos jamais abandonar a palavra de ordem Lula Livre, porque se há alguém pagando a conta por nós todos é ele. Se o partido abandonar essa luta, aí sim terá sucumbido.
Vai ser fácil? De jeito nenhum, mas nunca foi…
Excelente análise, parabéns