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Em defesa da Cinemateca

Ato pela cinemateca

Centenas de pessoas se reuniram este sábado em frente ao prédio principal da Cinemateca Brasileira em São Paulo para protestar contra o descaso do governo e cobrar ações imediatas de proteção e manutenção do mais importante acervo da história audiovisual do Brasil.

O incêndio que no dia 29 destruiu parte do galpão da Cinemateca na Vila Leopoldina, e com ele materiais preciosos como a biblioteca de Glauber Rocha e boa parte dos acervos da Embrafilme e de Paulo Emílio Salles Gomes, foi o que motivou a manifestação e é o golpe mais recente em uma série de desastres e omissões dos últimos governos com relação à Cinemateca e à área da cultura em geral.

Foi por falta de funcionários e recursos que esse acervo foi perdido no incêndio do dia 29,  e não por uma calamidade imprevisível. Além de São Paulo, outros seis Estados tiveram atos pela Cinemateca, entre eles Rio, Curitiba e Porto Alegre. Todos foram convocados pela Frente Ampla em Defesa da Cinemateca, que reúne a Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA), o Coletivo Cinemateca Acesa, a Associação Brasileira de Cineastas (Abraci) e suas associações estaduais, a Associação de Moradores de Vila Mariana, a Trabalhadores da Cinemateca Brasileira e outros grupos ligados ao Movimento SOS Cinemateca.

Ato pela cinemateca

Em São Paulo, cerca de 500 pessoas participaram do protesto, pela estimativa informal da Guarda Civil Metropolitana. Eram, na maioria, cineastas, técnicos, intelectuais e ativistas da cultura, assim como militantes do PT, do PSOL e do PCB. Mas também havia muitos moradores do bairro da Vila Mariana (o prédio principal da Cinemateca fica na Vila Clementino, que faz parte do distrito), famílias com crianças e cães. E a Bateria da Torcida Jovem do Santos, que fez uma apresentação.

“É um leque de apoio como nunca vi”, disse Carlos Augusto Calil, presidente da Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC), ao jornalista Jotabê Medeiros, do site Farofafá. “É talvez o maior ato de todos os tempos em defesa da Cinemateca”, comemorou o deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL-SP).

Havia muitos cartazes de “Fora Bolsonaro” e outros que pediam a prisão imediata do secretário Especial da Cultura, Mario Frias, e de seu secretário adjunto, Hélio Ferraz, por omissão criminosa. “Não tem mais conversa com esse governo, eles não são confiáveis”, disse a representante de uma das associações de moradores da Vila Mariana, que move uma ação civil pública contra a Secretaria Especial de Cultura. “Nós estamos dialogando com delinquentes, com bandidos. Eles foram contratados para destruir a Cinemateca”, discursou Gianazzi, que entrou com uma denúncia criminal na Procuradoria Geral da República contra Frias e Ferraz.

Ato pela cinemateca

A renúncia de Mario Frias faz parte da lista de reivindicações, que inclui ainda a implementação imediata de um Plano de Trabalho de emergência, com a contratação de funcionários para fazer a manutenção e o monitoramento dos arquivos, na maioria altamente inflamáveis, e a reabertura da instituição, que está fechada desde agosto de 2020. Outra exigência é a edição de um novo edital para escolha de quem vai administrar a instituição.

Para o movimento SOS Cinemateca, o edital publicado no “Diário Oficial da União” em 30 de julho, com mais de um ano de atraso com relação ao que fora prometido, na verdade busca atacar a estrutura pública da instituição, pois define um orçamento muito baixo para ela e dá uma ênfase desproporcional ao autofinanciamento. Ele prevê, por exemplo, que cabe à entidade escolhida buscar patrocínio no setor privado, e propõe que os produtores paguem para ter seus filmes conservados na Cinemateca. “Esta não é a finalidade de uma instituição de memória. É um contrassenso”, apontou Débora Butruce, presidente da ABPA.

Ato pela cinemateca

Especialistas afirmam que o incêndio do dia 29 provocou perdas irreparáveis, de documentos de décadas dos órgãos públicos federais de audiovisual – como a Embrafilme e o Instituto Nacional do Cinema –, filmes de professores e alunos da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, centenas de rolos de 35 mm do acervo da Pandora Filmes e duplicatas de matrizes de filmes que estão na sede principal. O galpão também abrigava documentos do arquivo Tempo Glauber, que reúne diários, anotações pessoais e cartazes originais do cineasta baiano Glauber Rocha.

Debate com cineastas

Além das manifestações de sábado, a Associação Paulista de Cineastas (Apaci) promoveu um debate virtual na sexta-feira, com apoio do canal Curta! O encontro, com o tema O Futuro da Cinemateca Brasileira, reuniu os diretores Ana Maria Magalhães, Cacá Diegues, Fernando Meirelles, Giba Assis Brasil, Joel Zito Araújo, Sandra Kogut e Tizuka Yamasaki. A mediação foi do cineasta Roberto Gervitz, coordenador do grupo SOS Cinemateca-Apaci. O debate pode ser visto no canal do Curta! no Youtube.

Ato pela cinemateca

Rio Grande do Sul

Porto Alegre também teve uma manifestação de defesa da Cinemateca Brasileira, com grande participação. A deputada Sofia Cavedon (PT), da Assembleia gaúcha, postou fotos do ato em seu instagram. “SOS CINEMATECA BRASILEIRA. Estamos participando do ato em defesa do nosso patrimônio audiovisual em frente ao Cinema Capitólio no Centro.”


Ato pela cinemateca
Ato pela cinemateca

Com informações dos sites Farofafá (São Paulo tem o maior protesto contra abandono da Cinemateca, de Jotabê Medeiros), do Vermelho (Manifestações alertam para riscos de destruição do acervo da Cinemateca Brasileira), do Hora do Povo (Cinemateca: manifestantes denunciam governo federal após incêndio que destruiu parte do acervo), e do Brasil de Fato (Frente Ampla em Defesa da Cinemateca realiza ato nacional para denunciar falta de investimento, de Michele de Mello e Lucas Weber).

Publicado em:Cultura,política

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