O Movimento Vozes do Silêncio e entidades de defesa dos direitos humanos chamam todas e todos a participarem da II Caminhada do Silêncio, neste 31 de março, no parque do Ibirapuera, em São Paulo. O ato marca a data do golpe militar que instaurou a ditadura no Brasil em 1964 e, como o primeiro, em 2019, lembra seus mortos e desaparecidos políticos.
Mas este ano sua pauta se abriu para protestar contra a violência de Estado hoje, desde os assassinatos de jovens negros e membros da comunidade LGTBI+ por policiais ao extermínio da população em situação de rua, o genocídio dos povos indígenas e a política de morte do governo que resultou em tantas mortes pela covid-19.
A caminhada começará com uma concentração às 17 horas na Praça da Paz (acesso pelos portões 7 e 8 do parque) e sairá às 19 horas em direção ao Monumento aos Mortos e Desaparecidos Políticos (portão 10). Os responsáveis pedem a todos que usem máscaras e álcool em gel. Como o nome da manifestação indica, não haverá falas durante o trajeto. Os manifestantes levarão fotos, velas e flores.
Os organizadores da Caminhada do Silêncio, como o Instituto Vladimir Herzog e o Núcleo Memória, publicaram no Youtube miniconvocatórias gravadas por mães de jovens assassinados, ex-presos políticos, jornalistas e ativistas dos movimentos pelos direitos humanos, que podem ser vista seguindo as hashtags #CaminhadaDoSilêncio e #VozesDoSilêncio, e #DitaduraNuncaMais.
Eles também convidam todas e todos a usarem as hashtags #CaminhadaDoSilêncio, #VozesDoSilêncio, #DitaduraNuncaMais, #LutoÉLuta, #ReinterpretaJáSTF em suas redes sociais na quinta-feira. O movimento incluiu uma pequena apresentação da Caminhada nos vídeos no Youtube:
Há 58 anos, o golpe civil-militar manchava a história do Brasil, ceifava vidas e deixava inúmeras vítimas e desaparecidos políticos. Desde então, aquelas e aqueles que lutam pela democracia e pelos direitos humanos protestam no dia 31 de março para que não se esqueça e para que não continue acontecendo tamanha violência de Estado. Infelizmente, nos últimos anos, com a ascensão da extrema direita, vivemos o aumento das violações de direitos, especialmente contra as populações negras, povos indígenas, LGBTQIA+, além da política de morte, durante a pandemia da Covid-19, que deixou mais de 650 mil vítimas. Por isso, vamos homenagear a todas e todos que lutaram pela vida, pela democracia e pelos direitos humanos ontem, hoje e sempre. Levaremos velas e flores. A II Caminhada do Silêncio é fruto do movimento Vozes do Silêncio contra a Violência de Estado, a iniciativa é liderada pelo @vladimirherzog, o @nucleomemoria e dezenas de organizações, coletivos e ativistas que, desde 2019, chamam a atenção da sociedade para as violências cometidas pelo Estado durante e após a ditadura.
“A iniciativa também joga luz sobre as lutas e populações que foram invisibilizadas naquele período – como populações negras, povos indígenas, LGBTQIA+ – e até hoje sofrem com as consequências da manutenção e da ascensão de projetos políticos contrários aos princípios democráticos e aos direitos humanos”, explicaram o Instituto Vladimir Herzog e o Núcleo Memória ao site da Rede Brasil Atual. “O assalto do Estado pela extrema direita e sua necropolítica responsável por mais de 650 mil mortes pela covid-19, o retrocesso nas políticas públicas de preservação do meio ambiente e dos povos originários, o retorno do país ao mapa da fome, o desmonte da cultura e tantas outras recentes violações de direitos unirá nesta data inúmeras frentes de resistência social.”
Em 2019, cerca de 10 mil pessoas participaram da caminhada, sob o impacto de manifestações favoráveis ao golpe de 64 por parte de autoridades ligadas ao governo. O próprio presidente da República, antes de eleito, se manifestou várias vazes a favor da ditadura.
A Caminhada do Silêncio “pretende reiterar as pautas anteriores, #DitaduraNuncaMais, do ano passado, e #ReinterpretaJáSTF, pela democracia, só que neste ano nossa intenção é nomear as vítimas dos vários grupos de pessoas mais vulneráveis e constantemente atacadas pelo Estado brasileiro, inclusive as mais recentes, que são as vítimas de covid-19″, afirmou a procuradora Eugênia Gonzaga, uma das idealizadoras da marcha, ao Jornal GGN. “Não há o que se comemorar no 31 de março. Tem de ser lembrado para que não se esqueça, para que não se repita”, afirmou a procuradora. “A certeza de impunidade inspira, dá ânimo aos agentes para continuarem praticando (a violência). “É uma lógica que a gente precisa inverter neste país.”
* A imagem do Monumento aos Mortos e Desaparecidos Políticos é de Gabriel Santana/WikiMedia Commons.