O documentário Libelu – Abaixo a ditadura, do diretor Diógenes Muniz, será exibido pela TV Cultura às 23 horas desta quinta-feira, 31 de março, para marcar a data do golpe de 1964. O filme, vencedor do 25º festival “É Tudo Verdade” em 2020, resgata a trajetória da tendência estudantil Liberdade e Luta, que surgiu em 1976 e ganhou notoriedade nos anos 1970 e 1980 ao levantar a bandeira “Abaixo a Ditadura”.
Esta será a primeira exibição do filme na TV aberta. Impulsionada pelo grupo trotskista Organização Socialista Internacionalista (OSI), então na clandestinidade, a Libelu teve um papel importante na reconstrução das entidades estudantis e na organização das grandes passeatas de 1977 em diante.
Profundamente hostis ao stalinismo do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e de outros grupos então dominantes na esquerda brasileira, seus militantes eram conhecidos pela irreverência e por uma estética diferenciada: gostavam de rock, promoviam festivais de arte sobre surrealismo, nos quais as estrelas eram autores como Breton e Soupault e cineastas como Buñuel. Libelu tornou-se um adjetivo. De seus quadros saíram vozes influentes na política brasileira em todos espectros, da esquerda e até, infelizmente, da direita.
No filme, Diógenes Muniz entrevista vários ex-libelus para traçar um quadro da tendência estudantil. Em maio de 2020, quando contamos que o filme fora selecionado para o “É Tudo Verdade 2020”, o maior festival de documentários da América Latina, Diógenes Muniz enviou a Cemap-Interludium uma pequena sinopse de sua visão da Libelu:
“Liberdade e Luta foi uma tendência estudantil surgida na segunda metade dos anos 1970. Impulsionados por uma organização clandestina trotskista, a OSI (Organização Socialista Internacionalista), os integrantes ficaram famosos ao retomarem a palavra de ordem “Abaixo a Ditadura”. Eram contra a luta armada e críticos do Partido Comunista. Em suas festas tocavam rock. No Brasil pré-abertura, ‘libelu’ virou sinônimo de radicalismo e, para os adversários, de inconsequência política. De suas fileiras saíram figuras tão diversas quanto o ex-ministro Antonio Palocci, o cientista político Demétrio Magnoli, o músico e escritor Cadão Volpato, o crítico gastronômico Josimar Melo, o ex-presidente da Radiobrás Eugênio Bucci e a jornalista Laura Capriglione. Reinaldo Azevedo, criador dos termos ‘esquerdopata’ e ‘petralha’, é outro que reivindica ter feito parte do bando. Quatro décadas depois, onde estão e o que pensam os jovens trotskistas que escutavam Rolling Stones, faziam chacota dos colegas stalinistas e tiravam do sério os generais da ditadura?”
Na internet, há pouca informação sobre a Libelu, mas o acervo do Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa (Cemap), abrigado no Centro de Documentação e Memória da Unesp, reúne um dos maiores acervos documentais sobre a tendência, além da coleção do jornal O Trabalho, da OSI, distribuído por seus militantes.
(*) As imagens são do acervo pessoal de Ruy Shiozawa e do cartaz do documentário.