“(…) é o Estado que, ao contrário, necessita receber do povo uma educação muito rigorosa.” (Karl Marx)
Danilo Chaves Nakamura*
No dia 26 de outubro de 2012, o candidato Fernando Haddad disse – em debate eleitoral transmitido pela Rede Globo – que honraria os compromissos já firmados com o magistério, ou seja, que seu governo incorporaria as gratificações e as bonificações nos salários. O adversário José Serra prometeu que daria um reajuste acumulado de 25%, uma decisão já encaminhada por seu vice, Alexandre Schneider, secretário municipal de Educação na gestão de Gilberto Kassab. Haddad, em sua tréplica, procurou desmascarar a promessa de Serra, afirmou que esse aumento é uma lei já aprovada e garantiu que o futuro governo do PT cumpriria tudo o que já foi firmado com a categoria.1Assista ao vídeo do debate no YouTube.
Haddad foi eleito. E com um grande apoio dos professores da rede municipal. Além das palavras do debate da campanha, esse eleitorado resolveu dar um crédito ao programa de governo do PT, que promete transformar a cidade de São Paulo numa “cidade educadora”. Segundo o documento, a atual gestão transformará São Paulo em “uma cidade que procura valorizar e formar os profissionais de educação, articulando carreira, jornada e piso salarial, que procura fortalecer o trabalho em equipe e com isso articular os equipamentos públicos e criar novas práticas pedagógicas e inovar os espaços educacionais”.2Ver o programa de governo do PT. Soma-se à credibilidade que o eleitorado concedeu a Haddad a desconfiança que os cidadãos – os professores especialmente – nutrem em relação ao candidato José Serra, cujo partido conseguiu destruir a carreira de professor e transformar as escolas estaduais num caos generalizado.
Mas até aqui estamos no terreno do marketing eleitoral, num sistema de participação política que inevitavelmente tende a funcionar como um mercado especial nas sociedades capitalistas. Em resumo, há o investimento numa campanha eleitoral para divulgar um produto político, que é a imagem do candidato e, eventualmente, uma ideia sobre algum assunto que chame a atenção dos eleitores e possa atrair votos; e há o retorno do investimento, que pode ser auferido por uma corrente política no melhor dos casos ou, no pior, por um carreirista individual.
O gabinete de Cesar Callegari
Desde o dia 3 de maio de 2013, os professores municipais estão em greve. Haddad – que meses antes prometia cumprir a lei já aprovada na gestão anterior – deveria reconhecer e conceder os 10,19% de aumento a partir de maio deste ano e outros 13,43% em maio de 2014 (o que não significaria um aumento real nos vencimentos dos professores, pois essa porcentagem seria apenas uma transferência dos valores das bonificações para o salário base). Mudou de ideia e agora oferece três parcelas de 3,68% para maio de 2014, 2015 e 2016. Em relação à inflação acumulada entre maio de 2012 e maio de 2013, o governo não ofereceu nada.3Para ter uma melhor visualização das propostas do governo municipal, ver os informativos do Sinpeem.
Surpresa, não só pela promessa eleitoral de Haddad, mas também pelo reforço que a secretária de Planejamento, Leda Maria Paulani, fez em relação aos compromissos já firmados: “Apesar de os salários não serem ainda aquilo que desejaríamos para carreira tão importante, é muito melhor do que já foi e há acordos fechados anteriormente que continuarão a elevá-los e que a nova gestão evidentemente vai honrar”.4Ver entrevista à Folha de S. Paulo em 28 de março de 2013.
A greve foi deflagrada após negociações que vêm sendo realizadas desde o dia 15 de abril. Em um tom mais contundente que seus companheiros de gestão, o secretário da Educação, Cesar Callegari, tem dito na imprensa que a greve é “incompreensível”, “abusiva e precipitada”. Na última negociação ele ameaçou e cumpriu: “Se não aceitarem as [propostas do governo] nos retiraremos da mesa.”
Callegari tem utilizado a imprensa para desmoralizar a greve, acusando-a de ter interesses político-partidários. Essa acusação seria verdadeira caso as negociações estivessem reduzidas aos cálculos das alianças partidárias tão caras à “governabilidade”. Como todo político, Callegari parece acreditar que os movimentos de base são compostos por pessoas incapazes de pensar em política de forma mais ampla. Mas, ao contrário da suposta ingenuidade, os professores conhecem o vínculo do presidente do sindicato, Claudio Fonseca, com setores reacionários da cidade de São Paulo. Os professores sabem que esse aparente “radicalismo” do dirigente sindical nesta greve pode desaparecer na assembleia seguinte, dependendo de acordos feitos dentro dos gabinetes; portanto, estão conscientes dos problemas de sua própria representação.
Acontece que, para além da política de gabinete, os professores estão parados por melhores condições de trabalho e pela defesa da carreira de docente. Há uma série de questões centrais para a educação pública e o governo não tem respondido. Afinal, como a prefeitura cumprirá a lei federal que limita o número de alunos por sala de aula? Como a prefeitura vai resolver a transição do sistema de oito para nove anos do ensino fundamental? Os professores de fundamental II, que terão um número menor de aulas a partir do ano que vem, perderão os benefícios de suas jornadas? Ou ainda, serão transferidos para outras unidades escolares, já que a transição causará excedente de professores nas escolas? Como a prefeitura pretende resolver a questão das inclusões que, por questões materiais e de formação, tem excluído uma série de alunos do processo educativo? Por que o prefeito Haddad vetou a criação de duas referências para a progressão na carreira de docente, mesmo depois de aprovadas na Câmara Municipal? Essas e muitas outras questões fazem parte da pauta de reivindicações dos grevistas e, no entanto, desaparecem nas manifestações públicas dos dirigentes do município. Por quê?
Longe de ser uma mera luta por salários ou de interesse corporativista, e mais distante ainda de certa insensibilidade social que os membros do governo petista tendem a acusar e a reduzir toda e qualquer tentativa de crítica ao governo, os professores do ensino municipal estão em greve por melhores condições de trabalho, estão em greve para conversar com a comunidade escolar sobre os problemas da educação pública e para lutar por uma cidade em que os cidadãos posam se esclarecer e não dependam de ideias recicladas para transformar São Paulo numa cidade educadora.5A ideia de cidade educadora apareceu nos anos 1990, na cidade de Barcelona, sede do 1º Congresso Internacional das Cidades Educadoras. Esse congresso aprovou uma Carta de princípios básicos de uma cidade educadora. Várias cidades brasileiras são membros da Associação Internacional de Cidades Educadoras: Belo Horizonte (MG), Caxias do Sul (RS), Cuiabá (MT), Pilar (PB), Porto Alegre (RS), Piracicaba (SP), Alvorada (RS) e Campo Novo do Parecis (MT).
Conclusão
Sem uma postura clara para resolver os problemas concretos da educação pública, o governo de Fernando Haddad precisa se esconder em justificativas que não vão além de uma mercadoria eleitoral. Como em qualquer gestão, promete a elevação dos índices de medição da qualidade do ensino, cursos de formação continuada para os docentes, educação em tempo integral para os alunos, salas equipadas com produtos de última geração, etc. Tudo isso não acontece, mas antes de qualquer coisa seria bom perguntar: será que são essas as reais demandas do ensino público?
Sim ou não, o fato é que, como já revelou Leda Paulani na mesma extensa entrevista à Folha de S. Paulo, qualquer ação que escape do enquadramento do jogo eleitoral, não será sequer pensada: “Não poderíamos expor o prefeito a esse tipo de risco”.6Ver entrevista à Folha de S. Paulo em 28 de março de 2013.
Aqui, ela se refere à assim chamada responsabilidade fiscal, mas ampliando o significado dessa frase, podemos entender que qualquer passo que contrarie os interesses do grande capital ou que coloque em risco uma reeleição ou as futuras ambições políticas de Haddad está descartado.
Em apenas quatro meses, as belas palavras da publicidade do governo vão revelando seu sentido político de longo prazo. Fala-se em “cidade educadora”, no entanto, a manifestação legítima da greve é entendida pelo secretário da Educação como algo “abusivo”. Dentro dessa mesma concepção de “cidade educadora”, a gestão procura criar uma espécie de negociação permanente em que, segundo um dos artigos do documento, não seriam mais realizadas paralisações por reivindicação salarial, salvo em caso de quebra do acordo proposto.
Como é possível falar em educação ao mesmo tempo em que se busca deslegitimar a construção coletiva de uma luta por melhores condições de trabalho? Ou ainda, como falar em educação no mesmo compasso em que se procura neutralizar a autonomia política de uma categoria profissional? Qualquer indivíduo com o mínimo de discernimento sabe que um acordo como esse significa decretar o fim de qualquer possibilidade de ação independente de uma organização sindical, que deve estar em constante diálogo com seus associados e não com o braço público da gestão do capital.
Encolhidos nessa política que existe apenas para garantir a “governabilidade”, os movimentos políticos que ousam se mover para além do mercado eleitoral imediatamente são enquadrados nele (a massa está servindo aos interesses de algum profissional político), ou são vistos como “intransigentes”. Conscientes desses limites, os professores já estarão cumprindo um papel decisivo nesta greve caso consigam desativar o discurso do consenso político desse governo “educador” que apenas reproduz uma política educativa sem projeto, objetivos ou conteúdos, ou seja, uma educação pública em perfeita harmonia com uma cidade (re) produtora de desigualdades.
* Danilo Chaves Nakamura é professor de história da EMEF Liberato Bittencourt.
NOTAS:
1. Assista ao vídeo do debate no YouTube.
2. Ver o programa de governo do PT.
3. Para ter uma melhor visualização das propostas do governo, ver os informativos do Sinpeem.
4. Ver entrevista à Folha de S. Paulo, em 28 de março de 2013.
5. A ideia de cidade educadora apareceu nos anos 1990, na cidade de Barcelona, sede do 1º Congresso Internacional das Cidades Educadoras. Esse congresso aprovou uma Carta de princípios básicos de uma cidade educadora. Várias cidades brasileiras são membros da Associação Internacional de Cidades Educadoras: Belo Horizonte (MG), Caxias do Sul (RS), Cuiabá (MT), Pilar (PB), Porto Alegre (RS), Piracicaba (SP), Alvorada (RS) e Campo Novo do Parecis (MT).
6. Ver entrevista à Folha de S. Paulo mencionada na nota 4.
Assino embaixo. O texto é extremamente correto ao apontar o contexto da greve de professores municipais e as políticas de corte neoliberal do bloco comandado pelo PT.
Na educação e na habitação. E muito provavelmente também em outros setores dos quais eu não tenho conhecimento. Fato é que Haddad e sua equipe de negociantes vêm em diferentes mesas usando as mesmas cartas: acordos, TACs (Termos de ajustamento de conduta), etc.
Na educação, a condição para a continuidade das negociações (do que?) é se calar nos limites de um aumento salarial irrisório.
Na a habitação, a condição para manter-se à mesa é (seria, pois foi rejeitada por movimentos de luta por moradia no centro)assinar um termo comprometendo-se a não realizar qualquer tipo de manifestações.
A situação claramente aponta para a radicalidade. Faz tempo.
Pois é, são com esses “ajustes de conduta” que os movimentos sociais estão perdendo a autonomia.
É vergonhoso a maneira como os governos, em todas as instâncias, tratam os professores. Fazer greve já não adianta mais, escolas fechadas não dão prejuízo, pelo contrário. Temos que arranjar uma outra forma de protesto. Assinar o ponto, entrar na sala e não ministrar aula nenhuma. A princípio, os alunos irão gostar, mas com o tempo começarão a reclamar. GREVE BRANCA, JÁ!
Não sei qual seria a melhor ação… O que temos a necessidade e a obrigação é de estarmos em diálogo com a população. O governo tem a mídia para dizer o que quiser de um movimento, nós temos pouco veiculos que ainda torna possível nos posicionarmos… Mas essa disputa é desigual.
Hoje fomos para a EMEF para dialogar com os pais. Convocamos a reunião semana passada, uma para cada turno,a fim de informar e debater o atual contexto.
Pois bem, fomos sinceramente surpreendidos positivamente. Dezenas e dezenas de pais e alunos presentes (quase 100 pessoas) discutindo juntos o que está acontecendo.
E o mais interessante: os presentes chegaram ao consenso de que a greve foi necessária apesar de todos os pesares (que não são poucos).
Caro Danilo, teu texto me parece excelente.
Gostaria de ter ideia mais exata e detalhada de como se apresenta o hollerith do professor municipal (ou dos professores municipais, no caso de alguma diferenciação interna na classe laboriosa), isto é, gostaria de saber o que configura exatamente a marca histórica de conquistas, garantidas, consolidadas, e o que poderia, a qualquer momento, deixar de ser o que é para vir a ser outra coisa (isto é: a inseguridade na configuração da “renda”, a depreciação do trabalho). É possível expôr por aqui?
Outra coisa, por fim: a todo momento o governo municipal repete o brado reducionista de que “a greve é política” – o que é estarrecedor, claro, vindo do partido dos trabalhadores. Teu texto (quer dizer: o esforço dos trabalhadores, apresentado no teu texto) aponta claramente em direção contrária, ampliadora, afirma a necessidade e a procura ativa por um diálogo mais profundo com a sociedade toda. Isto me parece o suficiente para desmascarar a grimaça que se tenta impor para esta bela movimentação social – um expediente que, mais uma vez surpreendendo, nunca antes na história desse país viria de onde vem hoje…
Abração e muita força na jornada de diálogo aberto e de resistência.
Caio,
tentarei responder alguns pontos.
Faz quatro anos que a prefeitura mudou o ensino fundamental. Passou de 8 para 9 anos. Com essa mudança, as escolas – a partir do ano que vem – terão que aumentar o número de salas do fundamental I e diminuir as do fundamental II. Primeira questão: sobrará professores de fundamental II nas unidades. Professores que fizeram um concurso, que escolheram determinada escola poderão ser transferidos. Segunda questão: alguns professores que tem 25 aulas atribuídas, provavelmente não terão esse número de aulas garantido o ano que vem. Esses perderão o direito de fazer JEIF (uma espécie de jornada estendida em que se discute o programa político pedagógico da escola, textos de pedagogia, uma espécie de espaço coletivo de discussão). Correm o risco de perder a complementação de aproximadamente R$ 600,00. Esse problema já estava previsto há 4 anos, até agora nenhum posicionamento foi tomado.
Outra questão… Ano passado foi aprovado na câmara a criação de duas referências. O que é isso? São as divisões de nossa carreira. Começamos como 14A e vamos evoluindo de acordo com o tempo de casa e com os cursos que vamos fazendo. Essas duas referências seria muito importante, pois os professores estão chegando rápido na última referência existente. Passam os últimos anos de sua carreira sem nenhuma evolução. Para os professores mais jovens isso seria muito bom, já que infelizmente não terão a aposentadoria integral que os servidores públicos tiveram, ou seja, eles não se aposentarão com o último salário, mas com a média de contribuição. Em fevereiro, Haddad vetou a lei que criava as duas referências.
Os professores jovens, tinham um salário muito baixo. As últimas gestões criaram um abono complementar. Num primeiro momento melhorou o salário dos professores. Mas faz alguns anos que todo aumento de salário significa apenas transferência dos valores do abono para o salário base. Ou seja, faz anos que esses professores mais jovens não tem um aumento real no holerite. E continuarão a ver isso até que todo o abono seja incorporado no salário base. Por isso, quanto mais longo são os acordos de aumento, mais tempo esses professores assistem sua renda ficar estagnada diante da inflação.
Uma coisa que ninguém fala. Eu esqueci de colocar no meu texto. Além dos concursados, a prefeitura possui muitos professores contratados. A prefeitura faz a seguinte sacanagem: contrata esses professores de fevereiro até dezembro. Por que? Para não pagar as férias desses professores que trabalham igual aos concursados.
Os agentes de apoio finalmente terão um aumento. Até agora, o salário deles era de R$ 440,00. Felizmente foi para R$ 755,00 (mais abonos).
O quadro é esse. Uma data-base que deveria ter um significado comum para a categoria, pelo contrário tem significados diferentes. Isso cria divisões entre os professores. E também entre os funcionários. O Governo do Estado fez isso de forma muito eficiente, por isso, a greve acabou de forma deprimente na última sexta (claro, com um papel criminoso da APEOESP).
Hoje é um dia triste!!
Como chamar os pais de alunos e explicar a importância de manter a luta dos professores a uma necessária valorização salarial e profissional, se na condição medíocre de pertencermos à classe média, nossos salários podem ser melhores do que os deles?
Como lutar com anos de desvalorização pela classe política e pela mídia que nos apresentam como substituíveis, melindrosos, desequilibrados, desocupados, se a própria gravata que usam vale mais que nossos salários?
Como comparar os resultados das provas externas de países com histórias de cuidados para com seus cidadãos tão diferentes?
Como comparar a quantidade de alunos das classes dos melhores( e mais caros) colégios particulares com as das escolas públicas de toda a periferia de São Paulo? Que nos traz os alunos com as mais variadas histórias de privações sociais, culturais, de alimentação e cuidados básicos. É realmente tão difícil entender que as condições biológicas e psicológicas para o aprender serão, no mínimo diferentes?
Como tratar de diminuição de idade penal quando nosso país não cuida da infância?
Como colocar a população e a única classe de profissionais que os atendem todos os dias por anos em oposição? Seria difícil entender que é justamente para mantê-los entorpecidos e de olhos vendados para os abismos sociais que existem em nosso país?
Abismos num país riquíssimo, que nega a sua população seu direito, pago arduamente , em uma quantidade absurda de impostos?
Como conscientizar uma população que está feliz porque agora pode consumir, que a carne que come é de péssima qualidade, assim como o transporte que usa, o leite que bebe e até a roupa que compra…
Somo 190 milhões que se calam ou que assim que sobem um degrau esquecem do poder que podem ter. Esquecem de olhar para os lados. Colocam os professores como vilões… engraçado a única classe que pode dar voz ao povo, porque será né?
Oi Kátia,
lá na escola os pais foram receptivos…
Mas creio que a regra é essa que você descreveu… Nos últimos anos, a forma que o Brasil se posicionou no mercado internacional, somados a políticas públicas de distribuição de renda, permitiu incluir milhares de pessoas no mercado de consumo.
Bolsa família, crédito consignado, minha casa minha vida, reuni e prouni… Podemos dizer que tudo isso foi capaz de incluir as pessoas. Não vou nem fazer um juízo de valor sobre esses programas. O fato esses programas permitiram o acesso.
A pergunta que talvez devemos fazer é sobre como essas pessoas foram incluídas. Cidadania plena? Ou uma espécie de subcidadania que continua a reproduzir as desigualdades sociais?
Seja lá qual for a resposta… O fato objetivo é que o Brasil continua sendo uma sociedade sem qualquer tipo de solidariedade e que reproduz uma violência histórica… Enfim, uma realidade de tirar o fôlego e paralisar qualquer pessoa que pensa (ou já pensou) numa realização plena do ser humano.
Ontem, hoje… tem sido dias muito tristes.
Para não ser pessimista, creio que não devemos perder o “chão firme”. Uma análise segura surgirá desse chão, assim como uma solidariedade expandida.
A greve continua…
A proposta do governo continua sendo a mesma.
Até agora a proposta é a seguinte: 10,19% em 2013 referente a lei acordada na gestão Kassab. E 3 parcelas de 3,68% em 2014, 2015 e 2016.
Escrevo isso para não acusarem que estou desinformando os leitores. No texto eu escrevo: “Mudou de ideia e agora oferece três parcelas de 3,68% para maio de 2014, 2015 e 2016. Em relação à inflação acumulada entre maio de 2012 e maio de 2013, o governo não ofereceu nada”.
É sempre bom lembrar que a inflação nos últimos 12 meses é de aproximadamente de 7,5%.
É bom esclarecer uma coisa. Esses 10,19% é parte de uma lei da gestão anterior.
Resgatando a história desse acordo:20% em 2008, 8,75% em 2009; 8,75% em 2010, 10,19% em 2011, 10,19% em 2012, 10,19% em 2013 e 13,43% em 2014. ISSO É LEI!
E uma lei que aconteceu porque o salário inicial dos professores era muito baixo. Para complementar o salário os professores tem um abono.
O cumprimento dessa lei significa para os professores jovens apenas a incorporação do abono no salário base.
Se o governo não concede um aumento real (ou pelo menos baseado na inflação), o significado das negociações salarias para muitos professores não é o aumento.
Imagina o que significa não ter aumento real de 2008 até hoje…
Dan – não êh segredo q não sou fã de greves, mas no atual sucateamento da educação não há muito o q fazer. Parabéns pelo texto e continuem organizados para obtenção de bons resultados para todos
Oi Fê, o texto está circulando bem… E provocando um debate interessante. Vários outros professores estão escrevendo e colocando questões sobre a educação. A dificuldade é que o governo tem a mídia para bombardear a população com mentiras, nós temos esses espaços de divulgação precária para tentar colocar o que realmente está acontecendo.
Ótimo texto Professor, parabéns. Expôs com sucesso o que a população não enxerga dentro da greve dos professores e utiliza sempre aquele velho jargão desde os tempos em que eu próprio frequentava o ensino fundamental: “Não sei porque fazem greve, estão sempre com carro novo. Devem ganhar muito bem !”
Incrível como as pessoas pensam que professores só entram em greve por motivos financeiros. Se esquecem (ou ainda não sabem/não entenderam) que é humanamente impossível lecionar para uma turma com no mínimo 35 alunos (isso quando não chega a 40/45), que não recebemos nada de apoio, cursos ou simples material impresso para podermos nos reciclar… Apoio totalmente a GREVE e tem mais, como Especialista em Informações Técnicas Culturais e Desportivas do CEU (um “tipo” Professor de Educação Física que dá aulas de esportes apenas para a comunidade), até hoje nossa querida PREFEITURA não consegue nos explicar se somos do quadro da SEME (Secretaria à qual pertencíamos no início do Projeto CEU (gestão da Marta Suplicy – 2004/2005) ou se somos da SME (a qual pertencemos- pelo menos consta no holerith). Devido a este motivo, não podemos nos filiar ao SINPEEM pois o mesmo não reconhece nosso cargo e este aumento conquistado para maio/2013 nós não temos direito… Não temos nem para onde correr, estamos nos mobilizando via redes sociais para que o governo possa “nos enxergar” e definir a qual secretaria pertencemos. Estamos pensando também aderir a greve atual, mas será que isso fará diferença ???? Acho que não, então boicotaremos todos os eventos de grande repercussão ao qual somos de suma importância: A VIRADA ESPORTIVA e o DIA DO DESAFIO.
Grande abraço e boa sorte !
Além das questões muito bem colocadas segue outras….
As negociações com os profissionais da educação deixam a desejar, a greve já poderia ter terminado caso fossem apresentadas propostas plausíveis ou aquelas que sequer o presidente do sindicato apresenta nas negociações como a isonomia salarial e a incorporação do PDE. Em relação à isonomia ao estudar o relatório de servidores da educação (disponível no site da prefeitura) é possível verificar a disparidade nos salários dada pela concessão dos 25% a 81% para alguns referente as perdas na gestão Maluf – uma proposta que julgo viável seria a isonomia com a condição de que o funcionário (coordenador, diretor,professor) tivesse dedicação exclusiva (apenas um cargo) o que proporcionaria uma vida mais saudável aos educadores e consequentemente um desempenho melhor. Em relação ao PDE, a proposta adequada seria a incorporação no salário de todos os servidores da educação de forma igualitária, mesmo que isso resultasse em percentuais muito baixos eliminando a política meritocrática própria do setor empresarial, na escola o trato é com pessoas e não com mercadorias, cada ser representa um universo e não há como “formatar”.
Lamentavelmente os professores do município e do estado de São Paulo não são bem representados, a esperança para a educação nessa cidade seria contar com um prefeito educador que pudesse, baseado nos princípios da pedagogia crítica elaborar planos que garantissem melhoras na educação de São Paulo, tendo para isso outros critérios de avaliação que levassem em conta o capital cultural, o local e o projeto político pedagógico de cada escola.
Além das questões muito bem colocadas segue outras…
As negociações com os profissionais da educação deixam a desejar, a greve já poderia ter terminado caso fossem apresentadas propostas plausíveis ou aquelas que sequer o presidente do sindicato apresenta nas negociações como a isonomia salarial e a incorporação do PDE. Em relação à isonomia ao estudar o relatório de servidores da educação (disponível no site da prefeitura) é possível verificar a disparidade nos salários dada pela concessão dos 25% a 81% para alguns referente as perdas na gestão Maluf – uma proposta que julgo viável seria a isonomia com a condição de que o funcionário (coordenador, diretor,professor) tivesse dedicação exclusiva (apenas um cargo) o que proporcionaria uma vida mais saudável aos educadores e consequentemente um desempenho melhor. Em relação ao PDE, a proposta adequada seria a incorporação no salário de todos os servidores da educação de forma igualitária, mesmo que isso resultasse em percentuais muito baixos eliminando a política meritocrática própria do setor empresarial, na escola o trato é com pessoas e não com mercadorias, cada ser representa um universo e não há como “formatar”.
Lamentavelmente os professores do município e do estado de São Paulo não são bem representados, a esperança para a educação nessa cidade seria contar com um prefeito educador que pudesse, baseado nos princípios da pedagogia crítica elaborar planos que garantissem melhoras na educação de São Paulo, tendo para isso outros critérios de avaliação que levassem em conta o capital cultural, o local e o projeto político pedagógico de cada escola.
Danilo:
Enfrentei por muitos anos este dilema. Lutávamos pela Escola Pública e Gratuita de qualidade. Lutávamos para que as classes populares pudessem ser acolhidas nessas escolas e que os jovens pudessem formar os quadros das novas gerações. Lutávamos por salários dignos referentes ao nosso ofício. Lutávamos por qualidade do ensino, em contraponto aos anos recentes do sepultamento da Ditadura Civil Militar.
Sucatearam nossas escolas, a imprensa desqualificou nosso trabalho, ficamos de sapatos rotos e envergonhados pelo descuidado da sociedade com nosso trabalho.
Hoje acenam para novas possibilidades de aperfeiçoamento dos quadros do magistério. Diria: somos bons! É que nos tratam muito mal! Sabemos de pedagogias críticas, sabemos de avaliações que não sejam medições, sabemos de acolhimento às populações carentes. Mas, não nos deixam trabalhar com liberdade, autonomia e qualidade. Isso não é por acaso!!!!
É por temos um cenário assim que não podemos deixar as pautas especificas de lado…
A questão econômica é importantíssima. Diz respeito a valorização da profissão, a possibilidade de uma vida digna e está no centro da contradição capital/trabalho. Precisamos sim, lutar por melhores salários. E é vital desmascararmos esses aumentos fatiados em parcelas e por abonos, pois isso no longo prazo congela nossos salários.
No entanto, não podemos deixar de lado as questões das salas de aula,da liberdade de ensino, da qualidade da infraestrutura das escolas e etc. Trabalhar com liberdade, autonomia e qualidade depende de tudo isso.
Também acho que isso não é por acaso. Talvez a pergunta seja, a educação brasileira é um caos programado ou um desastre estratégico?
O que foi acordado no SINP e está tramitando na câmara.
1 – 0,01% a partir de maio de 2011 (reajuste geral da data base maio de 2011; retroativos serão pagos em duas parcelas – agosto de 2013 e agosto de 2014).
2 – 0,82% a partir de novembro de 2011 (gatilho devido e ainda não pago; retroativos pagos da mesma forma).
3 – 0,01% a partir de maio de 2012 (reajuste geral da data base maio de 2012; retroativos pagos da mesma forma).
4 – Elevação do padrão de vencimento da carreira nível básico (agente de apoio) de R$ 440,00 para R$ 755,00 (aumento de 71,6% – esta medida beneficia os trabalhadores de salários mais baixos de toda a prefeitura – como os coveiros, por exemplo – e que estavam há 8 anos praticamente sem reajuste nenhum, nem alteração de carreira nem nada parecido com isso, amargando uma queda brutal em seu já minguado rendimento real).
5 – Elevação do padrão de vencimento da carreira nível médio (AGPP) de R$ 645,00 para R$ 920,00 (aumento de 42,6%).
6 – Elevação do piso mínimo nível básico de R$ 630,00 para R$ 1.132,00 (aumento de 79,7%).
7 – Elevação do piso mínimo nível médio de R$ 930,00 para R$ 1.380,00 (aumento de 48,4%).(Esta substantiva elevação dos dois pisos beneficia cerca de 60 mil servidores dentre os de salários mais baixos da prefeitura).
Além disso, há também:
1 – 10,19% de aumento para os servidores da educação (respeitando acordo anteriormente feito; 67 mil servidores entre ativos e inativos são beneficiados); e
2 – 0,18% para todos os servidores a partir de maio de 2013 (item acrescentado por sugestão da comissão de orçamento e finanças da Câmara, enquanto revisão geral da data base maio de 2013).
As 3 parcelas de 3,68% cada acabaram não entrando no acordo. Os sindicatos não quiseram se comprometer com o futuro e preferiram negociar a data base a cada ano. Por isso não entrou.