Morre Gershon Knispel, revolucionário até o fim
José Arbex Jr.
Em 7 de setembro, faleceu em Haifa (Israel), aos 86 anos, o artista plástico Gershon Knispel, um militante da causa revolucionária, socialista e da luta pela emancipação do povo palestino.
Dividia seu tempo entre Haifa e São Paulo. Aqui, sempre identificado com as causas democráticas e populares, tornou-se articulista da revista Caros Amigos, denunciando duramente a política de ocupação israelense dos territórios palestinos. Era um intelectual de convicções firmes, sustentadas com grande coerência e integridade até o fim de sua vida, ao mesmo tempo em que tinha um fino e agudo senso de humor.
Sempre às escondidas de Nina, sua companheira, adorava dar umas “escapadelas” gastronômicas, regadas a caipirinha, furando uma dieta prescrita por seus médicos após um infarto.
Nascido em Colônia (Alemanha), em 1932, em plena ascensão do nazismo, emigrou com a família para Haifa. Ali cresceu, estudou (completando sua formação em Jerusalém), entrou em contato com as ideias socialistas, ensinou arte no acampamento de emigrantes de Shahar Halya e em escolas públicas. Tornou-se um dos artistas mais conhecidos e respeitados de Israel.
Seus trabalhos têm como tema cenas do mundo dos trabalhadores, judeus e palestinos – operários industriais, imigrantes, refugiados, camponeses. Em Haifa, criou, entre outros, os monumentos A Queda do Terceiro Reich, o Memorial do Soldado Desconhecido e o Memorial de Hana Senesh (paraquedista enforcada, que lutou ao lado dos combatentes em Jerusalém durante a ocupação nazista, em 1944) na fachada do Centro Cultural no Kibutz Yad-Hana.
Veio ao Brasil pela primeira vez em 1957, instalando-se em São Paulo. Em 1958, a convite de Assis Chateaubriand, criou o painel no edifício-sede da TV-Tupi de São Paulo. O painel permanece bem conservado nos altos do prédio, que hoje abriga a sede da MTV. Morando no Brasil, desenvolveu sólidos laços de amizade com o também comunista arquiteto Oscar Niemeyer. Deixou o país em 1964, como consequência do golpe militar, e voltou em 1995.
Em São Paulo, participou de várias exposições, coletivas e individuais. Criou a escultura na Praça Cinqüentenário de Israel, no bairro de Higienópolis, e um painel no Centro Médico Girassol, na Vila Madalena, dedicado à memória de Vincent Van Gogh. No ano passado recebeu o Prêmio Jabuti pelo seu livro de arte Knispel: Retrospectiva 1950-2015 (Editora Maayanot, 2016) – uma síntese de toda sua vida de trabalho artístico e de luta política.
No fim de 2014, a TV-PUC produziu um longo documentário entrevista, em que Knispel fala de sua vida e convicções. Veja as quatro partes da entrevista: