A comunidade palestina relembra esta semana a Nakba (“catástrofe”, em árabe): a data em que o Estado de Israel foi criado, com a expulsão pela força de mais de 800 mil palestinos, que perderam tudo o que tinham e ainda hoje estão espalhados pelo mundo sem expectativa de voltar para casa. Em São Paulo, a Frente em Defesa do Povo Palestino e o espaço cultural Al Janiah promovem uma série de eventos para saudar a resistência à opressão israelense e pela Palestina livre, do rio ao mar!
A Nakba não é uma memória de 1948, mas uma realidade ainda hoje. Basta olhar para o pesadelo cotidiano dos moradores da Faixa de Gaza, prisioneiros em seu próprio país, submetidos a um bloqueio que inviabiliza sua economia, vítimas de bombardeios e destruição de edifícios e casas, dependentes da ajuda da Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) para simplesmente sobreviver (veja box abaixo).
Na primeiro fim de semana de maio, foram 29 mortos e 200 feridos, na pior ofensiva israelense à Faixa de Gaza desde 2014. Naquele ano, a brutal ação militar de Israel durou 51 dias, deixou 2.205 mortos palestinos, dos quais 1.563 eram civis, incluindo 538 menores de idade. E no entanto, a mídia brasileira e internacional insiste em tratar a questão como um conflito entre lados iguais, sempre repetindo o argumento de Israel de que suas ações são apenas de defesa ou de resposta a ataques do lado palestino, como mostra artigo de Soraya Misleh na Carta Capital.
As consequências do ataque de 2014, aliás, são o tema de um dos filmes programados para os eventos desta semana da Frente em Defesa do Povo Palestino. Gaza, curta-metragem que no começo do ano recebeu o Prêmio Goya, da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas da Espanha, documenta o inferno vivido pelos moradores depois dos bombardeios e ataques terrestres daquele ano. É uma viagem por várias cidades da Faixa de Gaza que, com imagens e entrevistas, mostra os escombros, a falta de mantimentos e material para reconstruir as casas arrasadas, as violações de direitos humanos e a violência contra a população.
Além de Gaza, a semana da Frente em Defesa do Povo Palestino exibe vários filmes importantes, entre eles Al-Nakba – A catástrofe palestina (Partes 1/2), que revela as origens da catástrofe palestina, com base em documentos oficiais liberados depois de 50 anos de sigilo e depoimentos de vários historiadores e testemunhas. A semana inclui ainda debates, apresentações musicais e uma oficina de dabke, dança folclórica popular que faz parte da herança cultural que os palestinos se esforçam por preservar. Confira a programação no site do Instituto da Cultura Árabe.
Você pode assistir ao documentário Gaza no Youtube clicando aqui.
O diretor de operações da Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina em Gaza, Matthias Schmale, disse que hoje mais de metade da população de Gaza depende da comunidade internacional para comer. Segundo ele, desde o ano 2000 o número de refugiados que recebem ajuda alimentar passou de 80 mil para mais de 1 milhão, um aumento “causado pelo bloqueio de Gaza e o impacto desastroso sobre a economia local, os sucessivos conflitos que arrasaram bairros inteiros e infraestruturas públicas, e a crise política interna palestina, que começou em 2007 com a chegada do Hamas ao poder em Gaza.” Para ele, Gaza está à beira do “colapso social”.
Com mais de 53% dos habitantes de Gaza desempregados, em torno de 70% vivendo abaixo da linha da pobreza e um bloqueio de mais de dez anos, as agências da ONU e as remessas do exterior são os únicos fatores que evitam o colapso total. Mas a UNRWA já avisou que a situação é extremamente precária e precisa de um financiamento adicional ou não poderá garantir ajuda alimentar à população no segundo semestre. Em 2017, um relatório da ONU previu que Gaza se tornaria inabitável até 2020.
Segundo a UNRWA, no início de 2018 o número total de refugiados palestinos era de 6,02 milhões, dos quais 28,4% viviam em 58 acampamentos assistidos pela agência (19 na Cisjordânia, 12 no Líbano, 10 na Jordânia, 9 na Síria e 8 na Faixa de Gaza). No dia 13, a Oficina Central de Estatísticas da Palestina (PCBS) informou que a população mundial palestina chegou a 13,1 milhões de pessoas no fim do ano passado. Pouco menos da metade, 6,48 milhões, vivem na Palestina histórica: 1,57 milhão nos territórios ocupados em 1948, 2,95 milhões na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental, e cerca de 1,96 milhões na Faixa de Gaza.