A história do líder camponês João Pedro Teixeira
A estrutura fundiária brasileira é fruto desde 1500 da colonização da Coroa Portuguesa no Brasil. Todavia, sua consolidação se deu nos anos após a implementação da Lei de Terras, em 1850, onde o poder das oligarquias rurais reinava. Por volta deste período, percebemos a intenção dos grandes proprietários de terra que é, puramente, produzir para o capitalismo. Neste contexto vive-se uma situação delicada em que os pequenos proprietários de terra são expropriados de seu espaço; local que compreende não apenas seu sustento, mas também sua vida.
Sem forças para lutar contra as oligarquias rurais, sua única opção é tornarem-se trabalhadores daquela terra ou migrarem para a cidade em busca de outras oportunidades. Já aqueles que resistem e decidem lutar contra a estrutura agrária ainda são reprimidos com violência, como é o caso de João Pedro Teixeira, assassinado por fazendeiros em 1962 na cidade de Sapé (PB).
“Cabra Marcado” – Representações de um Brasil rural
João Pedro Teixeira nasceu no dia 4 de março de 1918, em Pilõezinhos, distrito do município de Guarabira (PB). Filho de Maria Francisca da Conceição e João Teixeira, um pequeno produtor rural da região. Quando criança, João teve bastante contato com a vida e o ritmo rural dos campos do nordeste brasileiro. Ajudava seu pai na produção e na venda de alimentos desde os 8 anos. Na época, já se notavam diversos problemas enfrentados por seu pai a respeito da violência advinda dos grandes latifúndios e do posicionamento do estado perante as situações de injustiça.
Em pouco tempo, João foi se inserindo nas lutas camponesas e ganhado visibilidade em sua região. Em 1950, após ataques consecutivos de latifundiários, na região de Sapé, os pequenos agricultores reuniram-se para criar uma frente ampla de ajuda e solidariedade; a princípio, na época, o intuito era formar uma rede de apoio mútuo. Dando assistência médica, jurídica e educacional, para os homens e mulheres do campo.
A fundação da Liga Camponesa de Sapé é fruto de diversas arbitrariedades cometidas principalmente, no decorrer da década de 50, tanto pelo Estado, que via o Nordeste como um espaço “atrasado”, e com ânsia de torná-lo desenvolvido, como em outros lugares do Brasil; e especialmente, pelos grandes proprietários de terra.
Com a fundação da Liga Camponesa, João tornou-se vice-presidente da articulação na Paraíba. No momento, cuidava principalmente de casos judiciais e reuniões com entidades solidárias. Em 1958 o movimento foi institucionalizado; fortalecendo e conseguindo mobilizar cada vez mais o número de pessoas a aderirem à luta contra os latifundiários.
Em sua atuação, a Liga de Sapé alcançou grandes benefícios para a população camponesa. Trouxeram os primeiros serviços médicos para a região, como o atendimento ao Samu, e as Unidades Básicas de Saúde (UBS). Alfabetizaram uma grande parcela de sua comunidade; se levarmos em conta que, na época, a maioria dos camponeses eram analfabetos, tendo a região do Nordeste como principal índice deste problema. Dessa forma, a alfabetização dessas pessoas significava, também a aquisição de voz política. Isso facilitaria muito a luta por melhores condições de trabalho e vida no campo.
Com essas conquistas adquiridas pela Liga Camponesa de Sapé, a notoriedade de seus ativistas tornou-se cada vez mais marcante no Estado. A casa de João Pedro era alvo de constantes ataques de fazendeiros.
No episódio que marcou o fim da vida do líder camponês, no dia 2 de abril de 1962, João Pedro havia sido chamado a João Pessoa para tratar de um processo judicial que o fazendeiro Antônio José Tavares movia contra ele. Chegando ao local, João fora informado que a reunião tinha sido cancelada minutos antes. Voltando então para sua casa, desceu do ônibus e foi caminhando pela estrada de barro, perto das proximidades do Café Vento, monocultura da região.
No meio do caminho, João caiu em uma emboscada; foi baleado nas costas por 3 tiros de fuzil, disparados por supostos policiais trajados de vaqueiro, a mando de Tavares, e de outros fazendeiros.
Aqueles 3 tiros, todavia, não colocariam fim a sua história. Aclamado como herói da luta campesina, o cineasta Eduardo Coutinho fez um documentário sobre sua vida e morte, com financiamento da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Movimento de Cultura Popular (MCP), lançado apenas em 1984, com o desabamento do regime militar. Sua história tratada na produção “Cabra Marcado para Morrer”, ganhou popularidade em grande parte do Brasil.
Desde janeiro de 2018, a importância de João Pedro Teixeira na história brasileira foi reconhecida oficialmente pela lei 13.598/12, que inclui o nome do líder camponês no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A obra foi exposta no Panteão da Pátria em Brasília e inclui nomes como Zumbi dos Palmares, Anita Garibaldi e Chico Mendes.
Por Thiago S. Annunziato.
Imagens do jornal Brasil de Fato e do Centro Acadêmico de História João Pedro Teixeira.