Nível de crescimento dos salários é o mais baixo desde 2008
Melhora na economia mundial não se reflete nas remunerações
O crescimento do valor dos salários em nível mundial continua a cair. No Informe Mundial que acaba de lançar, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) constata que a taxa de crescimento dos salários em 2017 foi a mais baixa desde 2008, e está bem abaixo dos níveis anteriores à crise financeira mundial, apesar dos dados que apontam para uma recuperação econômica na maioria das regiões.
Essa taxa caiu de 2,4% em 2016 para 1,8% em 2017. Os países ricos da Europa Ocidental tiveram praticamente zero de crescimento de salários, enquanto os Estados Unidos mantiveram uma taxa de 0,7%, igual à de 2016. A região da América Latina e Caribe teve um saldo ligeiramente positivo e no Brasil, especificamente, houve uma reversão com relação aos dois anos anteriores: a taxa foi de 2,3%, depois de ficar em -1,9% em 2016 e -0,3% em 2015.
Os países chamados de emergentes tiveram resultados melhores do que os países ricos, de forma geral. Sempre é bom lembrar de que se trata de um porcentual de crescimento; em termos de valor, os salários dos países emergentes continuam bastante baixos e, em muitos casos, são insuficientes para cobrir as necessidades básicas das famílias.
Da mesma forma, a própria OIT ressalta que nos países de economias de baixa e média renda estima-se que até 50% de todos os assalariados trabalham na economia informal ou no mercado de trabalho formal, mas em condições precarizadas. No coeficiente Gini de desigualdade na distribuição de salários, o Brasil é o terceiro mais desigual entre os países classificados como de renda média-alta. Com um índice de 43,4, fica atrás apenas da África do Sul, que tem 63,9, e da Namíbia, com 62.
Os porcentuais do Informe Mundial da OIT se referem ao crescimento dos salários em termos reais, ou seja, o cálculo é feito a partir dos valores mensais brutos ajustados pela inflação. Para as regiões, a organização usa uma média ponderada dos salários nacionais.
O relatório aponta que a queda mais acentuada da taxa foi nos países da Europa Ocidental, onde estava em 1,3% em 2016 e ficou próxima do zero no ano passado, inclusive com redução de salários na Espanha e na Itália. Nos Estados Unidos, continuou em 0,7%, como em 2016.
Há uma contradição entre esses números e os índices que mostram recuperação econômica e redução do desemprego nessas mesmas regiões. A OIT indica que o principal fator para essa recuperação econômica foi o maior gasto com investimentos e não o consumo interno. E cita, entre as possíveis explicações, o crescimento lento da produção e a redução do poder de negociação dos trabalhadores frente aos patrões.
Na região da Ásia e Pacífico, a redução foi de 4,8% em 2016 para 3,5% em 2017, sendo que a China, obviamente, tem um peso desproporcional no cálculo. Sem os dados da economia chinesa, a diferença é mais gritante: de 4,1% em 2016 para apenas 1,6% em 2017. Na Ásia Central e Ocidental, a taxa foi de 3% em 2016 e de 0,5% em 2017.
Os dados da África embutem um certo fator de incerteza, pois as informações de 2016 da OIT se baseavam em 14 países e as de 2017 passaram a cobrir 28 países. A média da região é de uma queda real, de -1,3% em 2016 para -3% em 2017, mas se as economias do Egito e da Nigéria não forem consideradas no cálculo, o resultado é positivo, de -0,8% em 2016 para 1,3% em 2017.
A maior exceção a essa tendência foi a Europa Oriental, onde a taxa de crescimento dos salários subiu, de 2,8% em 2016 para 5% em 2017. A região da América Latina e Caribe também teve um saldo positivo, mas muito ligeiro: de 0,1% em 2016 para 0,7% em 2017.
O Informe Mundial da OIT traz ainda uma extensa pesquisa sobre as desigualdades salariais com relação a gênero. Globalmente, a diferença de remuneração entre homens e mulheres está na casa dos 20%.