Ou se entende o que é o PT ou não se entende nada do que está se passando. A construção de uma organização de massa é algo bem diferente do que seguir uma receita de bolo. Não se trata de colocar uma pitada a mais de leninismo ou tirar algumas gotas de luxemburguismo e ir provando o bolo até que fique bom. Trata-se do processo de luta de classes, e o que a classe operária brasileira, o povo oprimido brasileiro, conseguiu erguer é o PT. E, cá entre nós, não é pouca coisa. É o que as condições objetivas e subjetivas, a maturidade das discussões doutrinárias e programáticas e, principalmente, a realidade da luta de classes permitiram. Deu para fazer isso, não deu para fazer outra coisa.
Por isso, por seu significado concreto, o PT e seu dirigente histórico precisam ser destruídos. Para a classe dominante é uma necessidade. O que parte da esquerda não quer entender, a burguesia entende perfeitamente. Não se trata, perdoe-me sr. Boulos, de fazer o PT capitular. Isso não basta mais. O PT já capitulou, mas o capital quer mais. Levy não basta. O ajuste fiscal não basta. A reforma da Previdência não basta, a mal disfarçada entrega do pré-sal não basta. É preciso destruir o PT e dessa forma dispor do Brasil e de suas riquezas sem resistência, fora alguns espasmos. E espasmos, nossa elite que já arrasou os Sete Povos das Missões, Palmares, Canudos, os Malês, etc., e que hoje, só em SP, tem uma PM que mata no mínimo dois por dia, sabe muito bem como enfrentar.
Em poucas palavras, precisa-se destruir o PT para poder impor uma completa derrota ao povo brasileiro.
É disso que se trata.
É disso que se trata há no mínimo dois anos. Esse movimento nada tem a ver com a política covarde ou corrupta do PT. Há uma necessidade que nem é brasileira, é mundial, do capital, de integrar o Brasil à divisão internacional do trabalho, das riquezas e do poder, que não é compatível com a presença do PT, mesmo rendido. O salário mínimo precisa ser reduzido, o que resta de capital nacional entregue ao imperialismo, a política externa não pode mais sequer ter nuance de independência, as elites precisam voltar a ter o monopólio das vagas nas universidades públicas, etc…
Para isso viola-se o pouco de soberania popular, o voto nas eleições presidenciais, que o PT tem a irritante mania de vencer. Captura-se para interesses privados três dos principais pilares do Estado burguês, que são a Justiça, o MP e a polícia, e, com o auxílio das lideranças de direita e da mídia, constrói-se o golpe. E sexta-feira, dia 04.03.2016, tivemos o líder do único partido expressivo que não é da elite virtualmente sequestrado por um comando estilo “ninja”, armado até os dentes, com fuzis automáticos. Na noite seguinte, sedes do partido e do Instituto Lula são depredadas.
O que, por exemplo, o PSOL tem a dizer sobre esses fatos? Isto: “Nota do PSOL sobre a Operação Aletheia“.
Nada se fala da ofensiva reacionária, da necessidade de preservar as organizações e as lideranças de classe. Apenas um nenhenhé sobre como nós do PSOL somos legais, ninguém nos investiga, achamos muito feia a corrupção e julgamos que a última operação forçou um pouco a barra.
Isso indica, na hipótese mais benigna, que não estão entendendo nadinha do que se passa, e nem mesmo o que é o partido do qual o próprio PSOL nasceu. Mas não acredito na hipótese benigna. Para mim é sectarismo mesmo. Uma doença que cega a esquerda e impede o que hoje é mais necessário do que nunca: a Frente Única. Trotsky escreveu quilômetros sobre o assunto e no Brasil, em alguns momentos, os trotskistas ajudaram a sua constituição. Essa unidade não implica compactuar com o PT, perda de identidade, renúncia à independência, nada disso, apenas uma firme unidade contra a reação. Isso a esquerda não petista não percebe ou não quer perceber. E hoje a defesa dos trabalhadores brasileiros passa por impedir a destruição do PT e a destituição de Dilma.
Se formos derrotados, a reação vai nos pisotear democraticamente, sem diferença entre os petistas capituladores e os não-petistas “revolucionários”.
Mas ao que tudo indica, as esquerdas sucumbirao a um acordao em desenvolvimento no mesmo corrupto congresso que condenam, mas contra a qual nao sinalizam nenhuma alternativa popular.