Apesar do esforço da grande imprensa para mostrar o conflito na Palestina como uma batalha entre mocinhos e bandidos, a realidade é bem mais complicada. Logo depois do corte de fornecimento de água, energia e alimentos para a Faixa de Gaza e do início do bombardeio dos 2 milhões de palestinos presos lá, sob o cerco militar de Israel, o historiador e professor da USP Osvaldo Coggiola escreveu uma análise sobre o nascimento e natureza política do grupo Hamas (responsável pelos ataques aéreos e por terra, os primeiros em solo israelense desde 1973). Nela, ele também analisa a guerra de ocupação da Palestina desde 1948 e mais particularmente nas últimas décadas. Resolvemos repercutir o artigo no nosso site, pois ele é essencial para a compreensão da atual guerra de extermínio.
A análise de Coggiola foi publicada no dia 10 pelo site A Terra é Redonda, com o título Fontes da resistência palestina – retrospectiva histórico-política da guerra na Palestina (você pode ler o artigo todo clicando no título). A imagem que ilustra este post é do site, de autoria de Leon Ferrari.
Coggiola descreve a origem do Hamas, que remonta aos anos 1970 e 1980, e seu crescimento em contraposição à “decadência política da Al-Fatah e da OLP” e à posição vacilante das correntes árabes laicas e/ou de esquerda com relação a Israel. “O fracasso do nacionalismo secular árabe na tarefa de colocar a luta nacional numa perspectiva anti-imperialista (o que teria exigido romper seus laços com as castas dirigentes dos Estados árabes monárquicos e reacionários), devido à formação de uma burocracia estatal parasita e enriquecida, levou ao fortalecimento do movimento religioso, que possuía uma longa tradição e bases organizativas. O Hamas (“ardor”) palestino elaborou uma resposta ao Estado sionista pela via da proposta de um “Estado Islâmico”, e disputou vitoriosamente espaço político contra a OLP.”
Em seguida, Coggiola relata e contextualiza os acontecimentos a partir da segunda Intifada, iniciada em setembro de 2000 para chegar ao momento atual.
“Na última década, a situação do povo palestino piorou consideravelmente, até chegar a uma situação desesperante, em que estava comprometida sua própria sobrevivência. A necessidade de empreender uma iniciativa militar tornou-se imperativa face à expectativa de uma nova Intifada, à crescente expansão colonialista de Israel, ao confisco de casas e propriedades, e à declarada intenção israelense de anexar a Cisjordânia, expulsar toda a população desse território e acabar com qualquer possibilidade de governo palestino independente.” Não deixe de ler!
Outras fontes
Um site importante para acompanhar os desdobramentos com um viés diferente da grande imprensa é o The Palestine Chronicle. As imagens que publicamos aqui são do site, de autoria de Mahmoud Ajjour.
Também sugerimos a leitura de outros duas boas entrevistas publicadas no site da Revista Fórum. Uma é Ualid Rabah: quem não entende conflito repete “as bobagens que fala esse Guga Chacra”, com o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, concedida no dia 10 de outubro ao programa Fórum Café. A outra, do dia 7, é Chamar ataque do Hamas a Israel de terrorismo é “completamente inapropriado”, diz especialista, com Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC-SP.