Jornal da USP reúne textos e vídeos sobre 1968
O Jornal da USP vem publicando desde o fim de setembro uma série de vídeos, artigos, entrevistas e depoimentos de professores e alunos que viveram as mobilizações, vicissitudes e arbitrariedades de 1968 na Universidade de São Paulo. O material, que continuará a ser enriquecido até 21 de dezembro, é um complemento ao ciclo de reflexões “USP, ecos de 1968, 50 anos depois”, mas também aborda os principais eventos políticos, culturais e sociais que tiveram lugar no Brasil e no mundo em 1968.
O ciclo, uma realização da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, do Centro Universitário Maria Antônia (Ceuma), do Jornal da USP e da Rádio USP, se estendeu de 2 a 5 de outubro, com exposições, peças de teatro, leituras dramáticas, relançamento de livros e mesas-redondas. A exposição e o documentário Os Fuzis da Dona Tereza Carrar, contribuição do Teatro da USP (TUSP) ao evento, estarão abertos ao público até dia 23 de dezembro na sede do Ceuma (Rua Maria Antônia, 294, Consolação).
O tema de fundo do ciclo foi o marco de 50 anos da Batalha da Maria Antônia, o confronto que começou como uma “simples” agressão de alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie a estudantes da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP que faziam pedágio para custear um congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Na escalada, os dois lados montaram barricadas e se enfrentaram com paus, pedras, tijolos, coquetéis molotov e barras de metal.
O enfrentamento, que se estendeu por mais de um dia, resultou na morte de um estudante secundarista, José Guimarães, e em dezenas de feridos, principalmente a partir da intervenção violenta da Polícia Militar. A Rua Maria Antônia ficou parecendo uma zona de guerra, pedras e estilhaços de vidro pelo chão, dezenas de janelas quebradas, carros virados e queimados. O prédio da USP foi destruído por uma tentativa de incêndio.
A batalha da Maria Antônia foi um símbolo, ou um resumo, de um momento negro da história do Brasil, que vivia há mais de quatro anos sob a ditadura militar. Ela foi antes de mais nada uma luta política, a explosão de tensões que se acumulavam há tempo entre os alunos da FFCL, muito ligados à UNE, e os do Mackenzie, onde era muito forte a influência do Comando de Caça aos Comunistas (CCC).
Menos de dois meses depois, o conflito foi um dos pretextos apresentados pelos militares para endurecer o regime, com a promulgação do Ato Institucional Número 5 (AI-5). A destruição do prédio da FFCL levou à mudança definitiva da faculdade para a Cidade Universitária. O Ceuma só foi reaberto ao público em 1993, como um espaço cultural.