O jornalista e militante trotskista Fúlvio Abramo teve ao longo de sua estrada uma vida um tanto quanto agitada; foi repórter e editor, trabalhou na revista Realidade (1966-1976), foi professor de botânica e diretor da Escola de Agricultura e Veterinária de Santa Cruz de La Sierra (Bolívia). Encarcerado diversas vezes, foi um dos fundadores da Liga Comunista Internacionalista (LCI) e da Frente Única Antifascista (FUA), fez parte do Partido Socialista Brasileiro e participou da fundação do PT em 1980, colaborando com o jornal O Trabalho até o final de sua vida. Fundou e dirigiu o Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa (Cemap). É autor da ilustre obra A Revoada dos Galinhas Verdes, onde descreve a batalha entre integralistas e antifascistas na São Paulo da década de 1930.
Nascido em São Paulo, no dia 9 de abril de 1909, neto do anarquista e revolucionário italiano Bortolo Scarmagnan, por parte de mãe, e com familiares muito influentes na arte, política e na mídia brasileira. Teve seis irmãos, entre os mais conhecidos, Lívio Abramo, desenhista e pintor, Athos Abramo, jornalista e diretor de teatro, Cláudio Abramo, jornalista, e Lélia Abramo, atriz, sindicalista e uma das militantes que contribuiu para a fundação do Partido dos Trabalhadores na década de 1980. Casado com Anna Stefania Lauff, filha do militante comunista húngaro Rudolf Josip Lauff, que lutou no Exército Vermelho da URSS ao lado de Leon Trotsky, durante os primeiros anos da Revolução Russa. Fúlvio teve dois filhos, Fúlvio Jr., falecido em 2001, e Marcelo Augusto.
Com esse histórico de similaridades política e intelectuais com sua família, entrou no movimento de esquerda em 1928, junto com sua irmã Lélia; formaram um grupo independente entre eles e mais 8 militantes que se filiou à Oposição de Esquerda organizada por Mario Pedrosa, Aristides Lobo, Lívio Xavier e João da Costa Pimenta. Fundou e comandou a Liga Comunista Internacionalista (LCI), seção brasileira da Oposição Internacional de Esquerda (bolcheviques-leninistas) encabeçada por Leon Trotsky. Em 1933 e 1934, atuou como secretário da Frente Única Antifascista (FUA), que reuniu diversas organizações do movimento operário brasileiro, de anarquistas a trotskistas e sindicalistas revolucionários.
Em sua obra A Revoada dos Galinhas Verdes, Fúlvio relata minuciosamente a manifestação armada de 7 de outubro de 1934, na Praça da Sé, em São Paulo, quando a organização operária varreu por completo um protesto da Ação Integralista Brasileira (AIB), composta por mais de 6 mil militantes integralistas. Nesta batalha morreram pelo menos seis guardas civis e o militante da juventude comunista Décio Pinto de Oliveira, e Mário Pedrosa foi ferido.
Em 1937 com a implementação da ditadura do Estado Novo, por Getúlio Vargas, diversos militantes tiveram de se exilar. Fúlvio foi para a Bolívia, onde trabalhou como ajudante, motorista de caminhão e cobrador de transportes públicos. Nesta época foi também professor na Escola de Agricultura e Veterinária de Santa Cruz de la Sierra, ministrando as aulas de Introdução à Botânica Pura e Aplicada, onde posteriormente tornou-se diretor do instituto.
Nesse período de exílio, porém, de grande enriquecimento em sua vivência e atuação; colaborou na organização do Partido Operário Revolucionário da recém-fundada 4ª Internacional. Já em 1946 foi expulso da Bolívia e teve de retornar ao Brasil, onde, junto com Mario Pedrosa, Antônio Cândido, Paul Singer e outros, desenvolvem um trabalho de cunho marxista no interior do Partido Socialista Brasileiro. Em 1981 comanda o jornal O Trabalho e participa da fundação do PT (Partido dos Trabalhadores), além de presidiar e ser cofundador do Centro de Documentação do Movimento Operário Mario Pedrosa, na década de 80.
Fúlvio Abramo faleceu em 3 de maio de 1993, na cidade de São Paulo, deixando na memória dos antigos e futuros militantes, uma trajetória árdua e pungente na luta constante contra o antifascismo.
Para saber mais, disponibilizamos no link abaixo, duas entrevistas realizadas na década de 1980 com Fúlvio Abramo; a primeira do jornalista José Arbex Jr. e a segunda, do jornalista Eugênio Bucci, para a Fundação Perseu Abramo.
Fúlvio Abramo: A trajetória de um militante antifascistas – por José Arbex Jr.
Fúlvio Abramo: 60 anos de luta pelo socialismo – por Eugênio Bucci.
Por Thiago S. Annunziato