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Protestos na França

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A passeata dos coletes amarelos em Bordeaux

Nivaldo Bastos

Na França, as manifestações dos coletes amarelos continuaram neste 8 de dezembro. Em Bordeaux, onde foram feitas as fotos que acompanham este artigo, a concentração começou às 13 horas, na Praça da Bolsa, e mesmo antes se percebia o enorme afluxo de gente vinda de todos os cantos da cidade.

Todos vestiam coletes amarelos e cada um trazia sua mensagem escrita nas costas. A palavra de ordem dominante era MACRON, DÉMISSION!, mas como se trata de um movimento de base, organizado por bairros e sem um comando centralizado, as mensagens nos coletes eram as mais variadas, com predominância para aquelas que protestavam contra o alto custo de vida e a parcialidade do governo que beneficia os ricos e piora a vida dos mais pobres.

Foram quase seis quilômetros de passeata pacífica com batucada (sim, e da boa!!), apoio de motociclistas fantasiados de Papai Noel e enorme apoio popular. A manifestação deve ter reunido mais de 50 mil pessoas.

Quando a passeata chegou à prefeitura, as “forças da ordem” começaram a lançar bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. A partir daí instaurou-se uma certa confusão e muita gente debandou, porque a grande maioria queria apenas manifestar-se, não guerrear. Mesmo assim houve atrito forte entre os cidadãos que se manifestavam e as forças policiais.

O movimento, que é nacional, ocupa todos os noticiários franceses e mostra uma força surpreendente, posto que nasce da revolta contra um custo de vida insuportável para os que estão na base da pirâmide da sociedade francesa.

As fotos da passeata dos coletes amarelos em Bordeaux (França) em 8 de dezembro são de Nivaldo Bastos.

Passeata dos coletes amarelos em Bordeaux, em 8 de dezembro de 2018.

Macron recua?

Em rede de TV no dia 10 à noite, o presidente Emmanuel Macron pediu “calma” à população e anunciou algumas medidas. Entre elas, um abono de 100 euros para quem ganha salário-mínimo. Resta saber se isso acalmará os manifestantes. Os atos de protestos do próximo sábado estão confirmados.

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Agora, tudo pode acontecer

Denis Collin

Chegamos no ponto crítico. Ou o movimento recua e dá a vitória à estratégia do governo de deixá-lo apodrecer. E nesse caso Macron perde as próximas eleições, mas segue fazendo seu trabalho sujo. Ou o movimento se aprofunda, arrastando tudo. O acontecimento mais importante se deu ontem em Puy en Velay, quando o “rei” mostrou-se nu e precisou fugir com sua comitiva. Não é comum um evento oficial acabar em plena debandada. Lembremos o dia 5 de dezembro de 1980, quando, numa visita a Valognes, no departamento da Manche, no qual vencera as eleições, o então presidente Giscard d’Estaing foi acolhido por uma chuva de maçãs podres atiradas pelos camponeses. O evento de ontem no Puy equivale às maçãs de Valognes.1Na terça-feira, 4 de dezembro, o presidente Macron fez uma visita oficial à cidade de Puy en Velay, onde o edifício da administração local (“prefecture” em francês, não confundir com prefeitura) tinha sofrido um incêndio recentemente. Uma manifestação de coletes amarelos o recebeu com vaias e perseguiu o cortejo da comitiva, que teve que fugir, encurtando a visita.

A questão do poder está colocada. Entrevistado pela rádio France-Inter, um colete amarelo resumia as reivindicações que, segundo ele, são consensuais: redução das taxas,2Trata-se principalmente do imposto sobre combustível, cuja alta foi o estopim do movimento dos coletes amarelos. A revogação do aumento segue sendo sua principal reivindicação. melhoria dos serviços públicos, aumento do salário mínimo e das aposentadorias e mudança das instituições de modo que, afinal, o povo seja representado.

A última delas é muito significativa. É o que expressa a palavra de ordem “fora Macron” que vemos nos entroncamentos rodoviários e rotatórias.3A principal atividade dos coletes amarelos consiste em fazer bloqueios de rodovias. Como tal reivindicação pode ser atendida? Os coletes amarelos de Commercy clamam pela formação de comitês populares em todos os lugares. Trata-se de erguer, frente ao poder da casta, o poder do povo. Essa questão pode ser resolvida com o avanço do movimento. Os franceses costumam melhorar quando grandes acontecimentos se aproximam e agora podemos esperar o melhor. De todo modo, a dissolução do movimento pretendida por alguns não passa de uma tentativa de salvar um regime acuado.

Escrito em 5 de dezembro no blog La Sociale

Publicado em:política

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2 Comentários

  1. Lourival Almeida de Aguiar

    Boa matéria! Queria saber do grupo do Vito Letizia: estive na fundação da Fração Bolchevique Trotskysta com ele!

    • Cemap-Interludium

      Oi Lourival, bem-vindo! Não sei bem o que vc quer saber, mas, basicamente, no começo dos anos 2010 formamos o grupo Interludium, por sugestão do Vito, que reunia ex-militantes da OSI e alunos e ex-alunos do Vito na PUC. A ideia era discutir e repensar aspectos políticos e teóricos do marxismo, à luz dos acontecimentos no Brasil e no mundo, e o papel de todas as nossas esquerdas. Sem muita pretensão, apesar das palavras grandes aí atrás, e principalmente sem um enquadramento militante que nos forçasse a tomar posições fechadas. A ênfase era concentrar esforços no debate de ideias, mesmo heterodoxas ou incômodas. Se você conheceu o Vito, sabe que ele nunca hesitou em mexer em feridas próprias ou alheias! Bom esse grupo meio que em seguida se viu frente a alguns desafios práticos que absorveram muito do seu tempo. O primeiro deles, muito triste, foi tentar preservar as reflexões do Vito que nunca tinham sido escritas. Isso obrigou Vito e o grupo a organizarem uma logística de entrevistas que pudessem ser feitas levando em conta a saúde cada vez mais precária de Vito. Elas se estenderam até pouco antes de sua morte e têm como resultado os três livros que publicamos como a série Diálogos com Vito Letizia. Outro desafio, a partir de 2013, foi assumir o Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa (Cemap), que é um dos principais acervos brasileiros sobre o movimento operário. Isso levou o grupo a se formalizar numa oscip, para fazer o convênio com o Cedem da Unesp, poder arrecadar recursos para manter e melhorar o Cemap e incorporar outros fundos e acervos. Nesses anos todos, o grupo aumentou, diminuiu, aumentou de novo, acabou se cristalizando num núcleo que se reúne com mais frequência e tem um pouco mais de tempo livre para levar adiante as nossas tarefas – algo como um “braço executivo” de Cemap-Interludium – e um entorno mais solto, de pessoas que participam quando podem ou querem. Via de regra, nos reunimos a cada 15 dias para fazer discussões e para atualizar as tarefas. Essas reuniões são abertas e, como ainda não temos uma sede fixa, ocorrem em lugares diferentes.
      Era isso que você queria saber? abs!

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